DIRCE18 11/02/2012
Milmaravilhosa
Primeiras Estórias, livro de J.G. Rosas que traz 21 contos, e, me permitindo tomar uma emprestada uma fala do narrador- personagem de Pirlimpsiquice , diria que, a leitura que eu fiz foi milmaravilhosa, ainda que, ao contrário do que aparenta, não são contos muitos fáceis de entender – falo por mim, uma vez que, alguns deles, me levou a releituras para um melhor entendimento, como A Terceira Margem do Rio.
De uma maneira geral, J.G. Rosas, aborda nesse livro diferentes temas, como o descoberta do mundo por um menino , o deslumbramento que coisas simples provocam, e a compreensão de que a alegria pode desvanecer , porém, no meio das trevas, um vaga-lume pode representar outra vez a Alegria.
E "mergulhando" na escrita e narrativa de G. Rosa me deparei com a solidão, com a loucura, com a solidariedade, com a lei dos mais fortes, com a ingratidão, com as seqüelas da guerra, com os questionamento que um espelho pode trazer, com um novo despertar do amor e da sexualidade, e encontrei , até , uma vaca fujona que, no final de sua insólita jornada, tal qual um cúpido, permitiu que dois jovens fossem atingidos pela certeira flecha do amor.
Vou me estender um pouco mais falando sobre a "A Terceira Margem do Rio" e "Pirlimpsiquice".
A Terceira Margem do Rio, por ter me intrigado, me instigado e me desafiado, a ponto de eu ler e reler 2 vezes, pois inúmeras perguntas ficaram me martelando: o que representaria o termo a terceira margem? Por que o filho não conseguiu, como os demais membros da família, levar sua vida adiante, quando seu pai resolve viver, rio adentro, em uma pequena canoa? Por que tanta culpa? Por que tive a sensação que o filho ocupou o lugar de protagonista destinado ao pai? Pensei, pensei e pensei. Lembrei-me que, com freqüência, as pessoas sem perspectiva, são definidas como pessoas que vivem às margens da sociedade. Então será que minhas perguntas poderiam ter como respostas que o Rio foi uma metáfora utilizada por G. Rosas da vida, da existência? A negação do filho em ocupar o lugar do pai , representaria o seu medo da travessia, o seu medo de fazer as coisas acontecerem, levando-o a optar em ficar à margem ( a terceira margem do rio) , e , como seu pai que ficou à margem - a mercê da loucura , ficaria ele a mercê de dias não vividos, esperando apenas pela sua derradeira hora?
Já ,Pirlimpsiquice....Ah! Doce verão dos meus sonhos... No conto: a lembrança do narrador-personagem de uma peça encenada na sua infância, e que, devido a ausência de um dos membros ( o protagonista mor) e a rivalidade existente entre os alunos do colégio, se deu o maior quiprocó.
Maior quiprocó também se deu, quando eu, no segundo ano primário, fui escalada pela minha professora ( D. Nilza) para encenar uma peça de teatro , na qual eu representava uma madame- caracterizada como tal : salto alto ( aos 8 anos???) coque na cabeça...fala sério: uma verdadeira caricatura - hilário. Mas não parou por aí: na peça eu derrubava um vaso de porcelana valiosíssimo e, em uma das minha falas, eu dizia: OH! Meu vaso de porcelana, tão valioso! Valioso, não só pelo seu preço mas também pelo seu valor sentimental. Ocorre, que nos ensaios eu derrubava um suposto vaso , e não havia objeto algum representando-o , porém, no dia da apresentação da peça, a professora, colocou na mesa o tão valioso vaso - uma garrafinha de coca-cola- e , eu, toda talentosa, derrubei aquela " preciosidade" que se espatifou no chão em mil cacos. Nossa!!! Que vexame! Não é que eu achei tanta graça com o "vaso" espatifado no chão, que comecei a rir muito , na verdade, eu chorei de tanto rir e não disse fala alguma. Eu apenas ria , ria e ria. A professora apavorada fazia sinal para que eu parasse de rir, mas não tinha jeito: a cada sinal dela mais eu achava graça. A solução que ela encontrou, para acabar com aquela situação embaraçosa, foi ocupar o meu lugar peça. Estava encerrada minha carreira de atriz.
Por que eu "fugi" de modo tão desavergonhado da leitura ? Porque ler G. Rosas também é se permitir, por meio da sua narrativa, "voar" a tempos longínquos, e se perguntar: como G. Rosas escreveria minha façanha? Qual o título que ele daria a ela? Pirlimpsiquice II?
Como nesse meu comentário prevaleceram as interrogações, eu o finalizo com mais uma: posso deixar de dar 5 estrelas?