Lene Colaço 24/07/2017Complexo Como as Alturas de UrubuirA resenha de hoje é só uma simples opinião, e será assim porque vou falar de um livro que não li. Dá pra falar de um livro que a gente não leu? Eu sempre digo que não, mas vou abrir uma exceção para o Guimarães Rosa. O motivo que me impediu de continuar a leitura é justamente o que me obriga a falar dessa obra
Faz tempo que tenho livros do autor na minha estante, e sempre admirei sua trajetória, seu trabalho, através de pesquisas e de elogios que sempre ouvi. Então finalmente criei vergonha na cara e peguei um livro dele para tirar minhas próprias conclusões, e escolhi começar por esse.
Primeiras Estórias é um livro que reúne 21 contos. Como nunca li nada do Rosa, não vou conseguir comparar com outras obras ou falar de seu “estilo”. Mas preciso dizer o que senti. A escrita dele não é fácil. É preciso ler com atenção. Há muito neologismo. Às vezes é perturbador, às vezes é poesia, e às vezes é uma poesia perturbadora. Por isso desisti do livro (na verdade, eu li até o fim, mas não li todos os contos). Não porque achei ruim. Pelo contrário, achei muito rico. Tem muito do Brasil nessas estórias. E seja você de Minas ou de Alagoas, vai perceber isso. Mas não é um livro para mim. Não agora. Ainda não possuo bagagem para compreender e apreciar esses textos da forma correta.
Dos contos que mais gostei, destaco “Soroco, sua mãe, sua filha”, “A terceira margem do rio” e “A menina de lá”. Esse ultimo achei muito especial, e me tocou de uma forma que não sei explicar. Segue alguns trechos:
"De repente, a velha se desapareceu do braço de Sorôco, foi se sentar no degrau da escadinha do carro. — “Ela não faz nada, seo Agente…” — a voz de Sorôco estava muito branda: — “Ela não acode, quando a gente chama…” A moça, aí, tornou a cantar, virada para o povo, o ao ar, a cara dela era um repouso estatelado, não queria dar-se em espetáculo, mas representava de outroras grandezas, impossíveis. Mas a gente viu a velha olhar para ela, com um encanto de pressentimento muito antigo — um amor extremoso. E, principiando baixinho, mas depois puxando pela voz, ela pegou a cantar, também, tomando o exemplo, a cantiga mesma da outra, que ninguém não entendia. Agora elas cantavam junto, não paravam de cantar. " Soroco, sua mãe, sua filha
Resenha completa no blog Bala de Limão
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