spoiler visualizarRaphael.Bottino 16/08/2024
Percebe-se facilmente que se trata de um clássico já nas primeiras páginas. Não sei se me arrependo de não ter lido antes porque é um livro complexo e que eu gostei de tê-lo feito já com um grau de maturidade.
O livro introduz personagens excelentes, como Queequeg, Stubb, Starbuck e diversos outros de origens distintas, mas é Ahab quem rouba a cena.
Os momentos em que Ahab aparecia eram sublimes. Um ser com uma personalidade muito bem trabalhada e que se move por um apetite voraz por vingança contra Moby Dick. Para ele, não importa que seu nêmesis não seja um ser vivo com funções cognitivas complexas capaz de entender completamente as consequências de seus atos. A baleia representa muito mais do que isso; ela é a parede que foi colocada em sua frente; a criatura divina que lhe foi apresentada para testá-lo. E, em sua mente, é seu dever vencer essa provação e se mostrar um ser superior. É seu objetivo vencer os obstáculos dos deuses e de, até mesmo, superá-los, "e assim profeta e executor serão um só".
A obra é repleta de simbolismos, alguns simples de entender, outros mais complexos e outros que, somente lendo novamente daqui a 10 anos, eu talvez tenha a noção de que perdi.
Acho que o ápice do livro foi a profecia do Fedallah: Aquele que recepcionaria Ahab no pós-vida seria visto uma vez mais. Mas a partida do capitão só ocorreria pela corda e após ver dois carros fúnebres, um feito por mãos humanas e outro não. Ahab, tomado pela loucura, entendeu que não seria morto na batalha. Mas um carro fúnebre seria o navio, com seus tripulantes, e o outro seria a própria baleia, com o corpo mutilado de Fedallah amarrado. E, por fim, selando o próprio destino, Ahab lança o arpão na baleia, para ser levado junto dela para as profundezas, enforcado pela própria corda.
A reflexão promovida no fim, de que Ishmael, órfão do Pequod, foi encontrado pelo Rachel, o navio errante que procurava seus filhos, foi o encerramento perfeito.
A variedade de personagens é bastante positiva para entender as camadas sociais da época e a visão que os grupos tinham dos outros.
A única crítica negativa que faço é a quebra de clima da história por conta das constantes pausas para descrições de baleias com suas particularidades de caudas, cabeça e tudo mais. Mas em uma época em que as informações não estão disponíveis na Internet e que conhecimento é proveniente de experiência tácita pura, é bem compreensível.
Moby Dick morre no fim? Para mim não ficou claro. Mas, na minha cabeça, a obra fica mais completa se a resposta for "sim". Até que ponto valerão suas obsessões e seus desejos mais profundos se você naufragar com eles? Ahab pagou o mesmo preço que as pessoas pagam até hoje. A diferença é que muitas não se dão conta...