Marcos Bassini 13/03/2009
Tom Malazartes
O que você faria se um dia, proibido de brincar com os amigos, ainda fosse obrigado, a título de castigo, a pintar de cal uma enorme cerca?
Se você se chamasse Tom Sawyer, faria isso: em vez de resignar-se ao trabalho, encarando-o com seriedade, fingiria prazer naquele compromisso, como se ele fosse a mais divertida de todas as brincadeiras.
O resultado? Em pouco tempo todos os meninos, invejando a sua cara de satisfação, já estariam pintando alegremente a cerca em seu lugar. E ainda entregariam para você todas as economias, só pelo prazer de prestar este serviço: chicletes mascados, cordas de peão, tampinhas de garrafa e outros objetos tão valiosos quanto.
Este é o fascínio que Tom Sawyer oferece há tantas gerações: nas brincadeiras, no horror aos compromissos e na construção de outra realidade ele é uma criança como qualquer outra, mas, diferente de qualquer outra, ele tem a coragem para realizar o que costuma-se relegar ao campo do desejo. E aquela malandragem que, mesmo desautorizada pelo nosso superego, sempre exercerá um discreto fascínio sobre todos nós. Tanto que este foi o primeiro livro que li, sem contar os obrigatórios da escola, contrariado por me ver trocando meus super-heróis por aquele livro sem quadrinhos, e mesmo assim jamais esqueci o colorido desenho desta simbólica cena de abertura.
Não estariam errados, portanto, os espanhóis, se ao traduzir o livro trocassem o nome do protagonista por Pedro de Urdemales. Tampouco se equivocariam os venezuelanos, se o chamassem de Pedro Rimales. No Brasil, por isso, tampouco seria estranho encontrar na capa do livro de Mark Twain este título: Pedro Malazartes.