Fernanda631 21/01/2023
Macbeth
Macbeth foi escrito por William Shakespeare entre 1603 e 1607.
A grande maioria das peças tem uma riqueza não apenas literária, mas filosófica, psicanalítica e política. Shakespeare foi, sem dúvida alguma, ao lado de Miguel de Cervantes, o maior poeta da literatura mundial.
Macbeth – culpa, ganância e traição.
Macbeth, que fascinou o público por quase quatrocentos anos, é, na minha opinião, uma peça poderosa e emocionalmente intensa.
A peça começa com uma breve aparição de um trio de bruxas. Em seguida, a cena muda para um acampamento militar, onde o rei escocês Duncan ouve a notícia de que seus generais Macbeth e Banquo derrotaram dois exércitos invasores separados – um da Irlanda, liderado pelo rebelde MacDonwald, e um da Noruega.
Macbeth e seu amigo Banquo, retornando vitoriosos da batalha, são parados por três bruxas. As bruxas cumprimentam Macbeth com uma profecia. Elas dizem que ele será o rei dali em diante. As bruxas profetizam que Macbeth será feito o Thane Cawdor (um posto de nobreza escocesa) e será o eventual rei da Escócia. Elas também profetizam que o companheiro de Macbeth, Banquo, gerará uma linhagem de reis escoceses, mas que ele nunca será rei.
As bruxas desaparecem, e Macbeth e Banquo tratam suas profecias com ceticismo, até que alguns homens do rei Duncan vêm agradecer aos dois generais por suas vitórias em batalha e dizer a Macbeth que ele realmente foi nomeado Thane de Cawdor. Só para esclarecer: anteriormente, Macbeth era Thane de Glamis, uma área governada chamada Glamis. Após o sucesso da batalha, Macbeth tornou-se Thane de Cawdor, o que poderemos equiparar ao papel de “Duque”. O Thane anterior traíra a Escócia lutando pelos noruegueses, e Duncan o condenou à morte.
Macbeth está intrigado com a possibilidade de que o restante da profecia das bruxas − de que ele será coroado rei − possa ser verdade, mas ele não tem certeza do que esperar. Ele visita o rei Duncan, e eles planejam jantar juntos em Inverness, o castelo de Macbeth, naquela noite. Macbeth escreve para sua esposa, Lady Macbeth, dizendo-lhe tudo o que aconteceu.
O tempo está sempre correndo, podemos sentir que um mau presságio está a caminho. E Macbeth, desde o aparecimento das bruxas, encontra-se assombrado e hipnotizado pelo tempo. Ele está hipnotizado pelo futuro. Ele está com a sensação de que pode se tornar rei. As visões do futuro levados pelas bruxas desempenham um papel fundamental e contribuirão para que sua personalidade sombria venha à tona.
Ao contrário de Macbeth, Banquo não deixa que seus desejos superem sua precaução moral.
Há algo tentador e assustador sobre a profecia das bruxas. É como se elas tivessem mexido com a ambição de Macbeth, desestabilizando-o. Antes da profecia, ele possuía uma alta patente, não possuía grandes ambições. No entanto, agora, ele não tem tanta certeza. Afinal, a profecia pode ser um poderoso vislumbre de um possível futuro de poder, mas a estrada que o levará até lá ainda não estava clara o suficiente.
São manifestações essenciais da atmosfera moral do mundo de Macbeth, como o fantasma em Hamlet. É como se Macbeth previsse um evento que parece já ter acontecido. Ele não tem conhecimento de sua ambição antes de cometer os crimes sangrentos.
Se a falta de clareza em Macbeth de como chegar a materializar esse futuro não é palpável, Lady Macbeth não sofria dessa incerteza. Ela deseja o reinado por ele e quer que ele mate Duncan (o rei da Escócia). Quando Macbeth chega ao castelo de Inverness, ela anula todas as objeções do marido e o convence a matar o rei naquela mesma noite.
Antes do crime, Macbeth pensa em recuar – afinal, ele é parente próximo do rei, um líder bom e justo. Inicialmente, Macbeth não quer cometer o crime (homicídio e regicídio), mas Lady Macbeth consegue persuadi-lo e nosso protagonista acaba matando o rei Duncan com seu punhal. Macbeth fica tão transtornado com o que acabou de fazer que sua esposa tem que tirar-lhe o punhal das mãos e deixar a cena armada para a incriminação dos criados do Rei.
Ele e Lady Macbeth planejam embebedar os dois camareiros do rei Duncan para que eles durmam: na manhã seguinte, a culpa já estaria no colo dos camareiros que seriam acusados de assassinato, pois não se lembrarão de nada. Enquanto o rei Duncan estava dormindo, Macbeth o apunhalou, apesar de carregar muitas dúvidas e um número de presságios sobrenaturais, incluindo a visão de um punhal sangrento que viu antes de cometer seu ato.
Quando a morte de Duncan é descoberta na manhã seguinte, Macbeth mata os camareiros – por raiva – e, com a maior naturalidade, assume a realeza. Com a morte do rei Duncan, seus filhos Malcolm e Donalbain fogem para Inglaterra e a Irlanda, os dois temendo serem as próximas vítimas.
Receando a profecia das bruxas – de que os herdeiros de Banquo tomarão o trono –, Macbeth contrata um grupo de assassinos para matar Banquo e seu filho Fleance. Eles emboscam Banquo em seu caminho para uma festa real, mas eles não conseguem matar Fleance, que escapa para a noite. Macbeth fica furioso: enquanto Fleance estiver vivo, ele teme que seu poder permaneça inseguro.
O peso da coroa, no entanto, traz apenas tormento e insônia ao novo rei. Sofrendo de dores terríveis de consciência, ele é incapaz de usufruir o que almejou. Ao mesmo tempo, teme a perda do poder recém-conquistado.
Embora as bruxas tenham desencadeado a série de eventos que mais tarde ajudarão a descida de Macbeth ao mundo da insanidade, a ação é realizada, mas, em seguida, Macbeth percebe que o futuro glorioso que ele imaginou não é muito seguro: seu reinado é ilegítimo. Macbeth não tinha uma linhagem nobre, ele deve continuamente lutar contra ameaças potenciais. Em suma, mais sangue deve ser derramado, para cumprir as profecias das bruxas. Macbeth ficou preso por um futuro imaginado. Seu futuro imaginado não é seguro o bastante, seu reinado é ilegítimo.
Uma vez que Macbeth e Lady Macbeth embarcaram em uma viagem assassina, o sangue simboliza a culpa deles, e eles começam a sentir que seus crimes os mancharam de uma forma que não pode mais ser lavada. A mancha está em cada crime. Os atos terríveis que ele tomou para se tornar rei o perseguem a cada passo dele. O passado cobra o seu preço. Um arrependimento? Não iria tão longe. Mas o fantasma do passado está presente quando o fantasma de Banquo aparece.
Devido a ambição e a loucura, Macbeth não percebe que sua esposa se sente também atormentada pelos crimes que os dois arquitetaram e executaram, desencadeando assim a sua morte, que apesar de não ser dita como aconteceu, nos leva a crer que foi suicídio.
Com a morte de sua esposa, Macbeth enfrentará sozinho a fúria e a vingança de Macduff pela morte de sua família, bem como Malcolm, filho de Duncan. Ambos estão retornando para a Escócia, a fim de libertar o reino da tirania e loucura de Macbeth.
Macbeth percebe tardiamente, que as três bruxas o enganaram e acaba sendo morto por Macduff, cumprindo assim, a última das profecias realizado por elas.
Com a morte de Macbeth, Malcolm é coroado Rei da Escócia. Quanto a Fleance, era conhecido pelo público contemporâneo de Shakespeare que o Rei James I da Inglaterra era, supostamente, um dos descendentes de Banquo.
Segundo o crítico literário Harold Bloom, Macbeth é o mais tenebroso dos dramas shakespearianos. A peça é uma ótima oportunidade para refletir sobre aspectos sombrios e atemporais do comportamento humano, como ganância, traição e culpa.