Candido Neto 06/03/2018Um romance sobre a passagem do tempo.Para mim, não é um livro sobre as lembranças do capitão. É um retrato sobre o declínio aristocrático do período entre guerras.
O principal e único amante de Charles não é Sebastian, ou Julia, nem Celia. Mas o tempo.
As passagens de tempo, as marcas indeléveis sobre a natureza urbana e a ausência dessa transformação na área externa da casa rural, o acompanha no detalhamento descritivo do livro. Mais que as pessoas, o efeito do tempo sobre as pessoas fascina o autor.
O alter ego do autor não descreve seus sentimentos, apenas suas ações, o que não quer dizer que não os tenha, mas as impressões não se tornam nem secundárias, mas terciárias à decadência moral (não confundir com imoralidade), o interesse dele é retratar sua época.
Charles deixa evidente sua paixão por Sebastian, e naqueles tempos as personagens circundantes não só percebem a homossexualidade como não dão nenhuma relevância a isso, não parecendo no livro ser visualizado um tabu.
Para o estilo que vai de um sarcasmo discreto ao lirismo descritivo, Waugh consegue manter o mesmo tom do fim da adolescência à meia idade, passando por alegrias e perturbações com a mesma palheta de tintas para pintar o quadro a que se dispôs a pintar.
Um livro cinzento, tristonho, esperançoso e comovente.