Maira Giosa 04/10/2021Retorno a Brideshead é contado na forma de memórias, da juventude de Charles Ryder e sua época mais feliz, vivida em Oxford ao lado de Sebastian Flyte no período entre-guerras. Conhecemos, além do bêbado Sebastian, uma série de personagens, como o cativante Antonio Blanche, e parte da família Flyte: seus irmãos (Julia, Cordelia e Brideshead) e seus pais, lady e lord Marchmain. Conhecemos outro personagem curioso: a residência de Brideshead, nas aforas de Londres.
A narrativa gira em torno da vida próspera da família, mas não consegue esconder o fato de que aquele estilo de vida aristocrático estava em seus suspiros derradeiros, e a maneira como o autor fala sobre a decadência de tudo (e todos) a seu redor é bastante interessante; sua escrita, até aqui, é delicada, melancólica e fluida.
Lá pela metade do livro, o jovem Charles dá lugar a um adulto tão diferente de ideias e valores que sequer pareciam a mesma pessoa; seus relacionamentos amorosos são tão infrutíferos quanto os da juventude, e o terceiro ato é inundado por um sentimento religioso que aparece do nada, interfere na felicidade de Ryder e deixa-o à mercê.
É compreensível, quando lemos a biografia do autor, Evelyn Waugh, entender o porquê: ele estava obcecado com o catolicismo, e esse elemento não conseguiu ficar de fora da obra - o que é uma pena pois, para mim, que não sou religiosa, a ideia de que a fé possa atrapalhar um relacionamento é muito distante, e o autor não se esforça para que você empatize com isso.
É uma mudança muito brusca de tom, o que leva muitos leitores a acharem a narrativa arrastada. Para mim, o que mais me incomodou foi a falta de conexão com o protagonista na fase adulta - e com todos os demais personagens então, que não me despertaram nenhum tipo de emoção real.
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