Priscila.Pieper 10/11/2020
MACUNAÍMA
Nascido no fundo do mato-virgem, filho do medo e da noite, uma criança birrenta, preguiçosa e de mente ardilosa, nosso herói, ou melhor, anti-herói vem ao mundo. Criado em uma tribo na Amazônia, ele vive aventuras que mais parecem de outro mundo, até banhar-se com mandioca brava e se tornar um adulto formoso.
Em meio a paixões, histórias cabulosas e brigas com os irmãos, Macunaíma vai parar em São Paulo na tentativa de encontrar um amuleto perdido, o muiraquitã. Depois de algumas investidas, o amuleto volta para as posses de Macunaíma, e assim, ele e seus irmãos retornam para a sua tribo na Amazônia. Em seguida, depois de perder novamente o tão amado amuleto, Macunaíma já decepcionado resolve ir aos céus.
Rodeada de polêmica, Macunaíma é por vezes alvo de desgosto por “representar” o Brasil de forma nada representativa. Confuso? Pode parecer, mas Mário de Andrade durante a semana de arte moderna de 1922, deixou claro o intuito de representar a brasilidade, o brasileiro, a nação tupiniquim. Mas muito mais que uma representação, o que ao meu ver, não é em seu sentido literal, mas uma mistura de crenças, estereótipos, culturas e gente, a principal obra do modernismo brasileiro é, ao menos para mim, uma caricatura cômica, fascinante, genial e deliciosa de saborear.
Com um “quê” de rebeldia e revolução, a obra Macunaíma quebra com o romantismo utópico em que índios eram transformados em cavaleiros medievais. A mistura bem feita entre o formal e o temático recheado de neologismos e da fala popular, mais me lembram de Cervantes e os delírios de Dom Quixote. Assim, a obra consegue representar perfeitamente as propostas do Movimento Antropofágico, que tinha como intuito nivelar a cultura brasileira às outras culturas de prestígio, aproveitando as qualidades de outras culturas, enquanto as transformavam em algo genuinamente brasileiro.
Nada mais brasileiro do que essa mistura cultural, não é mesmo?
Boa leitura!