cadenthrones 28/05/2024
Burguês safado
Gosto muito como Madame Bovary, mesmo sem a intenção do autor, se comunica com o romantismo e as ilusões do movimento prevalente na época que sangram para a vida real e contamina nossa forma de ver o mundo.
Eu simpatizo e muito com a Emma (a personagem-título); diria até que, assim como o autor, "Madame Bovary sou eu", afinal, muitas filosofias do romantismo ainda estão presentes na nossa modernidade e, com ele, vem essa noção individualista da vida, de como ela de ser seguida e do que te faz feliz, e eu já caí nesse tipo de ladainha. Tudo isso contamina Emma porque, na condição de burguesa, não podendo trabalhar, o que lhe resta é a vida domiciliar, e os seus sonhos, suas fantasias e romances não podem ser atingidos, assim não existe felicidade no que é real, mas na possibilidade do que poderia ser. Sendo que isso cria um ciclo de constante insatisfação, ou seja, é a tragédia anunciada.
Emma recorre ao consumo e ao luxo quando não tem seus affaires com seus amantes, sendo este o principal motivo do final que ela tem; o que, para um livro de 1856, é incrivelmente uma crítica muito pertinente ao capitalismo, ele que bebe muito de ideias do romantismo para atingir seus objetivos, afinal, ele também se desenvolve a partir de uma filosofia individualista.
Enfim, não tenho muito mais o que dissertar sobre o livro além disso, a não ser dar luz à prosa maravilhosa do Gustave Flaubert que, assim como a de Robert Louis Stevenson em "O Médico e o Monstro", eu comparo lê-la a boiar numa piscina e deixar que a água te carregue. Perfeita em todos os sentidos.