spoiler visualizarAlice2168 05/10/2024
Um bom terror, e algumas páginas não tão legais assim
Vi muitas críticas falando da leitura arrastada, por se tratar de um livro limitado em atos e mais limitado ainda em ambientação. Mas sou suspeita pra falar dos livros do King e esse foi um que pra mim não fez jus às reclamações - embora não saiba até que ponto ter visto o filme tenha me influenciado.
Não diria que arrastado, porque a trama é pontual - uma noite de pesadelo de uma moça algemada à cama, com o marido morto aos pés. Para os fãs de thriller poderia ter se resumido apenas ao pânico, o que limitaria o livro a cento e poucas páginas. Mas Stephen sempre vai atrás de sentimentos mais complexos que o medo, e nesse ele aproveitou a estadia forçada da narradora para revisitar traumas passados - o seu histórico de abuso sexual pelo pai na infância.
Essa parte da narrativa, por mais que seja o forte do autor - de não se limitar ao susto mas mergulhar fundo na mente daqueles que temem - me deixou desconfortável, e quanto a isso não vi crítica em lugar nenhum. Já na leitura de It a Coisa eu não entendia a necessidade de detalhes na hora de descrever cenas de cunho sexual. Mesmo na breve insinuação a estes havia uma fixação que parecia escapar da narração e ia pra obsessão sem sentido. Em Jogo Perigoso o autor chega a insinuar que a menina, a época do abuso, sentia atração pelo abusador, e isso tudo descrito de forma extremamente desconfortável para o leitor. Depois essa ação foi "justificada" pela culpa que a mãe jogou sobre a filha pelo que aconteceu, mas me pareceu mais uma desculpa para o autor escrever do jeito que escreveu.
Passada essa que pra mim foi uma parte mal aproveitada, King consegue brincar com um dos medos mais comuns da vida - o de uma sombra no canto do quarto quando desligamos as luzes para dormir. O pânico transmitido só não se igualou, para mim, ao que senti lendo Louca Obsessão. Aqui King também não deixou de mostrar o verdadeiro terror, o de descobrir que a sombra que nos assusta é uma pessoa real, e o sentimento de vulnerabilidade quando descobrimos que estávamos no faro do lobo o tempo todo.
Temos vários tipos de medo sendo exploramos então, passando pelos traumas que não são mais palpáveis mas ainda estão presentes no subconsciente, o terror provocado por pessoas reais e a agonia carnal que é a cena da libertação das algemas - que foi essencial, também, para a libertação de Jessie de seus demônios particulares.