Raphael 01/10/2014Bom, não vou entrar em detalhes sobre o enredo (li este livro há vários anos), vou apenas tentar explicar o porquê de "Jogo Perigoso" ser meu livro preferido do Stephen King. Confesso, no entanto, que minha relação com este autor poderia ser classificada como incomum. Não gosto, por exemplo, de "Dança da Morte", um de seus maiores sucessos. Mas voltemos ao "Jogo Perigoso".
Tenho uma profunda admiração pela temática do horror. Seja no cinema, na literatura ou em qualquer outro tipo de manifestação artística. O motivo eu não sei dizer ao certo, mas acredito que (ao lado de obras dramáticas) são as que mais mexem com a emoção de quem imerge nessas coisas. No entanto, sejamos honestos, é praticamente impossível encontrar um livro que nos cause medo. O que conseguimos, de fato, encontrar em livros de horror, pelo menos naqueles bem sucedidos com a sua proposta, são algumas sensações, digamos, parecidas com medo. Desconforto acho que é a melhor palavra para definir o que eu to querendo dizer, inquietação. E "jogo perigoso" causa um profundo desconforto no leitor, causa inquietação, incômodo. É impressionante a forma como o autor insere o leitor nas aflições, dores, angústias e coisas afins que acontecem com a protagonista, Jessie. Não tem como ficar alheio ao que está sendo contado na história, o leitor vai sofrer junto com ela.
A Jessie, diga-se, por um determinado motivo, encontra-se algemada numa cama, sozinha, em sua casa de campo. Não entrarei em pormenores mas, após dias, a solidão lhe corrói o pensamento, a sede e as dores físicas castigam seu corpo e, não obstante, o anoitecer lhe traz uma situação perturbadora causadora de medo e aflição (há ou não alguém no quarto com ela?), e o leitor vai sentir tudo isso junto com a personagem. Exceto, naturalmente, as dores físicas. Por outro lado, veja que curioso, este livro me provocou tamanha imersão que eu consegui sentir sede junto com a protagonista enquanto ela sofria perto de um copo de água sem conseguir alcançá-lo. Nunca em minha vida de leitor eu tive uma imersão tão profunda quanto eu tive com a leitura de Jogo Perigoso.
No mais, em determinado momento, vai acontecer algo bem marcante entre Jessie criança e seu pai durante um eclipse. Outra vez imersão. E que imersão, diga-se. Espantosa. Quem leu sabe do que estou falando. E se quem leu não se sentiu "imerso" durante o episódio do eclipse devo dizer que você leu errado. Que experiência! Ficou meio vago né? deve-se ler o livro. Enfim, talvez eu não tenha sido muito claro, mas a intenção é essa mesmo. A minha relação com o livro foi bem particular e inefável. A intenção aqui é fazer com que você esqueça as críticas (sim, este livro foi muito criticado, por incrível que pareça) e dê uma chance para "Jogo Perigoso". Quem sabe você não seja um leitor exótico de Stephen King assim como eu.