livrodebolso 14/10/2019
Há quem acredite que a protagonista desta história é a catedral, entretanto, para mim ficou claro que tudo gira em torno de algo intangível, porém visível; a palavra ananké, que significa fatalidade, foi gravada na parede de Notre Dame e está presente em cada página desta obra monumental. .
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Desde os primeiros meses de vida, a pobre cigana conheceu o alcance da expressão, ao ser arrancada dos cuidados de sua mãe e trocada por criatura disforme, capaz de fazer qualquer um esquecer tratar-se de uma criança. Nestes termos, Esmeralda, magnífica, cresceria nas ruas, dançando e encantando quem pusesse os olhos nela; Quasímodo, por sua vez, a representação da Idade Média, permaneceria tal qual as gárgulas, despertando medo e admiração, no topo da igreja, badalando seus amados sinos.
Claude Frollo, o acerdiácono, foi quem se apiedou do inocente menino, julgado filho do demônio, transformando-o em algo como ajudante. Desta forma, fez com que Quasímodo tentasse raptar a egípcia, por quem Frollo era obcecado. O corcunda, surpreendido no ato pelo Capitão Phoebus, acaba levado a julgamento e, sendo ele surdo, assim como o próprio juiz, a condenação não é apenas injusta, mas cruel. Apenas uma alma bondosa ajudou a criatura em seu desespero: a vítima. Esmeralda, ao ser salva, apaixona-se pela figura do capitão.
A tragédia passa a acontecer desse sentimento de necessidade, posse e obsessão. .
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Victor Hugo lembra-me Dumas, um pouco menos bem humorado e mais preocupado com a descrição, enquanto o outro é imbatível em seus diálogos. Eu prefiro diálogos. Ainda assim, o final foi tão lamentável que eu só parei de ler quando acabei.
O realismo francês é o que me faz admirar essa literatura mais fortemente que as demais: a linda cigana encantada e o feio corcunda, alvo das maiores atrocidades, o sofrimento do padre rejeitado por sua amada e o aproveitamento do capitão, que vê Esmeralda apenas como diversão, são, sobretudo, retratos dos seres humanos mais comuns, que vivem suas tragédias reais todos os dias.