Milena.Berbel 16/03/2024
"o futuro se tornou o presente"
Mais uma vez surpreendida por um dos gêneros literários que menos me empolga: a ficção científica.
Um livro, publicado no ano de 1951, que nos permite vislumbrar o futuro para encarar o presente.
Apesar das inovações tecnológicas, da conquista do espaço, das grandes facilidades trazidas pela ciência, os personagens destes contos parecem todos sofrer de uma perda de conexão: com o outro, com a família, com a fé, com a arte, com a natureza, com as próprias emoções, com o momento presente, com aquilo que importa realmente.
Os contos são melancólicos, incômodos, como se não houvesse mais lugar para a esperança, para a redenção do ser humano, como se estivéssemos todos seguindo por um caminho inevitável rumo à nossa aniquilação, não física, mas da alma.
Muitos personagens são sim, de algum modo, exterminados, mas vejo como um simbolismo da finitude da nossa própria humanidade.
Curiosamente, mas não por acaso (penso eu), o penúltimo conto - O foguete - destoa dos demais por trazer uma faísca de esperança, como se ainda fosse possível mudar o curso desse caminho sombrio pelo qual parecemos estar fadados a seguir.
A atitude do personagem principal - Fiorello Bodoni - me fez relacionar este conto às duas tatuagens do homem ilustrado, apresentado no prólogo e no último conto, que dá título ao livro, as quais, embora permitissem a quem as visse enxergar o futuro, estavam inacabadas. O suor e os pensamentos do homem ilustrado se encarregariam de finalizá-las.
Até que ponto o homem, vislumbrando o futuro (ainda um tanto incerto, inacabado, mas muito assustador), poderia alterá-lo por meio do seu "suor" e pensamentos?
Diversas interpretações cabem a este e aos outros contos, mas essa foi a minha reflexão sobre este livro. E de um modo ou de outro, não dá pra ficar indiferente a ele.
Excelente!