Márcia Regina 18/07/2012
"Estou viva, não é?"
Não saberia dizer o que me “prende”, não existe um aspecto definido. Alguns livros, eu recomendo por causa da história; outros, pelo clima que criam, pelas sensações - inquietantes ou não - que me trazem.
Confesso que me perdi no meio da leitura de “Os verbos auxiliares do coração”, li no ônibus, por pedaços, e ele exige atenção mais continuada e análise profunda de cada termo ou situação, em especial do narrador que está com a voz a cada página.
Como não me foi possível ler dessa forma atenta, resolvi deixar a confusão fazer parte. Afinal, era uma confusão característica do momento retratado, uma perda (ou será um encontro?) acarreta um aflorar de sentimentos e reações complexas que nem sempre conseguimos expressar de forma clara e lógica.
Não foi uma má ideia, se perdi a história, e perdi muito, o clima me envolveu por completo, dor, dor, dor, mesmo no riso. Entendi tão bem quando Esterházy escreveu: "De fora, ouvimos a risada que ele dava dos descendentes melindrosos, e mal se podia distingui-la de um choro".
Recomendo, principalmente como livro a ser relido e estudado com calma e profundidade no futuro. Agora, neste primeiro gosto, ficou a angústia. E me parece que parte da intenção do livro era exatamente essa: deixar como legado a impotência, a tristeza, o medo, o reencontro, a solidão.
No final do texto, o autor coloca: “Um dia, vou escrever tudo isso com mais precisão”. Sim, um dia, eu vou reler a obra com mais precisão. Agora, a dor me basta.