Léo 13/02/2017
Ótimo livro, história bem desenvolvida
Livros de terror sempre me conquistam, e sou muito suspeito para falar sobre essas histórias que, às vezes, de tão atraentes e diferenciadas, causam efeitos inesperados após a leitura. Ultimamente tenho feito umas escolhas interessantes para leituras e releituras e, nestas que se iniciam inéditas entre minhas coleções, encontro um turbilhão de impressões, e os impactos têm sido cada vez melhores. Comecei, por essas madrugadas, a leitura de Noites de Terror, livro escrito pelo booktuber e autor Rubens Pereira Junior. Iniciei a leitura esperando encontrar contos de terror reunidos em uma compilação, já que não li a sinopse e confesso que só a capa foi o suficiente pra fazer a mente imaginar os possíveis encontros após adentrar o enredo. Bom, pra quem esperava uma história instigante, valeu a pena conhecer autor e obra.
Há muita coisa boa que se passa em Noites de Terror, que começa o seu enredo com (um ápice), exibindo influxos interessantes e intensos, cheios de mistério e ação. Pude reparar que os protagonistas de Rubens em muito se assemelham entre si, já que estão em busca de algo que, às vezes, não se é possível ter: um porto seguro sem nome, que de vez em quando se chama paz, outras, esperança... E, antes de continuar, digo que a jogada com o outro paralelo exibida em Noites de Terror são, de certa forma, sedutoras e macabras, e fizeram-me recordar momentos especiais vivenciados em minha realidade no mundo do terror. A verdade é que a casa da Floresta dos Carvalhos guarda muitos mistérios e desafia àqueles que por lá adentram.
Entre os elementos presentes em Noites de Terror vemos alguns dos já conhecidos do público do horror: crianças esquisitas, vultos, corredores obscuros, escadas, portas que rangem, demônios e espíritos vingadores, todos aglomerados num enredo onde o autor tem calma em desenvolvê-lo, o tornando bem intriguista, apesar de quase tudo se passar, em sua maior parte do tempo, em um mesmo local, a casa assombrada. Mas esse pano de fundo clichê, com a velha 'casa assombrada' dos filmes de terror, não impede que o progresso da história aconteça. Rubens Pereira não se preserva em expandir, quando inevitável, seus locais e personagens, deixando-os mais fidedignos. Ao acompanharmos a trajetória de Lucia, descortinamos a retratação do combate individual do ser vivente contra as trevas, situação até comum, mas que muitos escondem dentro de si próprios, por medo. Isso, às vezes, estoura como uma bomba e precisa ser enfrentado. Em Noites de Terror, o autor convida o leitor a encarar junto com os seus personagens, seus maiores medos e transformá-los em uma carta coringa contra o próprio opressor. Entre as personagens criadas por Rubens Pereira, curti demais o pequeno Ed. O menino se sai bem em muitas as situações e durante grande parte da história mostra um ar moleque e divertido. Lucia, sua irmã, também foi muito bem dominada pelo autor, que sabe aproveitar as características da jovem e usá-las com perfeição.
''O medo em Lucia crescia cada vez mais ao ver que seu horror não tinha fim. Aquele ser lhe perseguindo estava cada vez mais próximo... as pernas doíam de tanto correr naquele corredor sem fim...''
Dizer que a escolha do título foi acurada e a sua paridade com o enredo é precisa, é, de fato, significativo para o leitor. Resumindo, encontramos na história, verdadeiras noites de terror e todos os elementos desenhados na capa. A coerência é direta.
As falas em uma história são partes medulares da própria, e quando não geradas com consenso, acabam prejudicando o livro. Aqui isso não acontece. Pude reparar, sem problemas, as cenas se formando enquanto lia os diálogos entre as personagens; bem trabalhados, convincentes e realísticos. Os sentimentos e as personalidades de cada um é bem transmitido nas conversações.
''Óh, guardiões dos portões da morte, senhores do além, afastem seus gatos da frente, retirem as nuvens que cobrem meus olhos, deixem-me obter o contato com os deres além-vida... Terríveis sonso de sussurros, gritos e risadas abafadas todos ao mesmo tempo surgiram em todo o cômodo, aterrorizando a todos. O frio tornou-se sufocante.''
O conteúdo, num geral, é enigmático. Quando nos damos conta estamos envolvidos num suspense sobrenatural bem arquitetado, fato diferente das críticas que eu ouvi sobre o livro antes de conhecê-lo. O autor sabe envolver a gente e cabe somente a nós, deixar ou não que a história preencha os espaços ocultos em nossa mente afim de interligar fatos. Falando em fatos, um ponto muito interessante que encontrei em Noites de Terror é a atribuição da palavra (Ele) grafada com inicial maiúscula para designar o (ser maligno) da história. Sabe-se, entre os mais religiosos, que esta grafia está prevista somente para o maior ser celeste dentre todos os outros, ? Deus ?, para aqueles que creem. Achei esse fato ousado e diferenciado.
Uma das razões que também me fizeram seguir a leitura até o fim, foi a escrita simples e suave do autor, que não exibe ainda uma técnica de mestre, mas que demonstra segurança e paixão o tempo todo. Percebe-se a necessidade do autor em querer jogar para fora as suas ideias, sentimentos e percepções sobre as temáticas expostas. O modo como ele escreve é, de certa forma, aliviante, e não somente para as personagens, mas primeiramente para ele próprio. Quem escreve, quer transmitir, e nesse ponto Rubens consegue atingir o seu objetivo também, pois o processo de cessão entre autor e leitor é muito bom. Em meio às sombrias ocorrências, Rubens consegue apresentar outros assuntos, estes mais sérios, que precisam ser reflexionados, dentre eles, problemas causados por distúrbios psicológicos, como a loucura e a anorexia ? pautado com habilidade durante o enredo ?, o impacto com a popularidade e os relacionamentos interpessoais, as personificações de vidas passadas, e simbologias e magia negra. O final do enredo é sangrento. As notas do autor ao final do livro, garantem ao leitor matar a curiosidade sobre o enredo e suas influências. Gostei disso!
A cada livro nacional que leio, percebo que realmente os resenhistas nacionais estão cada vez mais incoerentes nos critérios de suas críticas, não sabendo o que exatamente criticam e por quais motivos apontam os erros. Não levam em consideração o esforço do autor para desenvolver o enredo, e para inserir e criar as personagens ou elementos nos assuntos que querem transmitir. Estão ficando cada vez mais exigentes, e sem necessidade. Costumam levar em consideração a comparação a outros grandes nomes da literatura mundial, que muitas vezes não colocam conteúdo fundamental algum em suas histórias ou as deixam artificial e sem rumo. Os resenhistas brasileiros buscam o quê, afinal?
Para um booktuber aspirante a escritor, Rubens mandou muito bem. Noites de Terror não chega realmente a ser tão sombrio ou causar arrepios na pele, mas é conduzido muito bem e apresenta um conjunto de assuntos e acontecimentos muito bem criados. Decerto, alguns pronomes foram usados com exagero, repetindo-se várias vezes sem necessidade, e uma revisão no texto geral o faria ficar mais harmônico. Entretanto, essas questões não apagam o brilho da obra. Rubens mostrou que pode nos trazer, num futuro bem próximo, ótimas histórias de terror.
''...Acho que isso é tudo bobagem. Fantasmas, demônios e coisas do além não existem. O perigo maior não está nos esperando no canto escuro de um quarto, mas sim no fundo mais obscuro de nossa própria mente...''; e, não seria, o fundo mais sombrio de nossa mente, um verdadeiro quarto de escuridão total e sem saída?