Rennanzinho 02/09/2021
A primazia do coletivo
Em tempos de pandemia do Covid-19, esse livro parece até uma profecia e qualquer semelhança não é mera coincidência.
Obra-prima de Camus publicada em 1947, retrata a revolta e a resistência contra uma peste que assola a cidade de Orã, na Argélia. "Se você quiser filosofar, escreva romances", disse Camus, e aqui ele traz uma alegoria da condição humana perante um flagelo. O absurdo é universal. Uma crise coletiva revela ao indivíduo valores não-individuais.
"Mas essa separação brutal e prolongada tinha-lhes capacitado afirmar que não conseguiam viver afastados um do outro e que, diante dessa verdade subitamente revelada, a peste era coisa sem importância."
"Havia os sentimentos comuns, como a separação ou o medo, mas continuavam a colocar em primeiro plano as preocupações pessoais. Ninguém aceitara ainda verdadeiramente a doença. A maior parte era sobretudo sensível ao que perturbava os seus hábitos ou atingia os seus interesses."
"Sem memória e sem esperança, instalavam-se no presente. Na verdade, tudo se tornava presente para eles. A peste, é preciso que se diga, tirara a todos o poder do amor e até mesmo da amizade. Porque o amor exige um pouco de futuro e para nós só havia instantes."