Stella F.. 09/09/2019
Necessário!!!
A PESTE
ALBERT CAMUS
Ambientado em Argel, na cidade de Oran, quando ainda estava sob jugo francês. Uma cidade comum, “neutra”, construída diante de uma baía de desenho perfeito.
"Pode-se apenas lamentar que tenha sido construída de costas para essa baía e que, portanto, seja impossível ver o mar."
"Uma forma cômoda de travar conhecimento com uma cidade é procurar saber como se trabalha, como se ama e como se morre."
Na manhã de 16 de abril de 194., o médico Dr. Bernard Rieux, tropeçou em um rato morto.
A narrativa vai girar agora em torno do porquê do aparecimento dos ratos, o surgimento dos primeiros casos de peste, a reação de diferentes personagens (Rambert, Rieux, Dr. Othon, Padre Paneloux, Tarrou, Grand, Sra. Rieux, Cottard) a ela e seu envolvimento na ajuda aos concidadãos.
Cada um se posiciona de acordo com sua história de vida e o que acredita ser amor, felicidade e exílio.
Vão ocorrendo muitas mortes, criam-se regras de quarentena, profilaxia, medidas sanitárias, mas os casos são cada vez mais frequentes e não há uma explicação clara, porque os conhecidos casos históricos de peste apresentavam-se completamente diferentes dos de Oran.
A situação se agrava e fecha-se a cidade. Os que vieram de fora não podem voltar para sua pátria, para sua amada ou família, e os que saíram da cidade momentaneamente não podem voltar.
Nesse momento é que o autor é genial e nos coloca questões primordiais: O que é pátria? Felicidade? Amor ao próximo? Exílio?
As pessoas ficam indignadas, porém aos poucos vão encontrando uma maneira de viver naquele exílio dentro da sua própria cidade, muitas vezes exilados dentro de sua própria casa, com persianas abaixadas.
"Experimentavam assim o sofrimento profundo de todos os prisioneiros e de todos os exilados, ou seja, viver com uma memória que não serve para nada."
As reações amorosas no início da peste mudaram:
"E, para todos nós, o sentimento que fazia a nossa vida e que, no entanto, julgávamos conhecer bem, assumia um novo aspecto. Maridos e amantes que tinham a maior confiança nas companheiras revelavam-se ciumentos. Homens que se julgavam volúveis no amor redescobriam-se constantes. Filhos que tinham vivido junto da mãe, mal olhando para ela, depositavam toda a preocupação e angústia numa ruga de seu rosto que lhe povoava a lembrança."
Mais tarde mudaram novamente:
"Sem memórias e sem esperança, instalavam-se no presente. Na verdade, tudo se tornava presente para eles. A peste, é preciso que se diga, tirara o poder do amor e até mesmo da amizade. Porque o amor exige um pouco de futuro e para nós só havia instantes."
Não havia previsão de quanto tempo duraria a epidemia.
Surgiram outras formas da peste e com isso formou-se grupos de voluntários, na ajuda a todos. A espera de ser o próximo a morrer, era pior que o desgaste de ajudar os que precisavam.
É impossível falar de todas as nuances dos personagens e do texto brilhante do autor com sua filosofia e ensinamentos. Cito apenas o jornalista Rambert, que era estrangeiro e havia deixado sua amada em Paris. Tentou em vão sair de Oran por meios escusos, e como era sempre difícil, aos poucos foi ajudando ao grupo de assistência aos doentes, e no final se sentiu inserido, questionando-se até se seu amor era tanto, ou se era uma idealização devido à perda.
"Em épocas normais sabíamos todos conscientemente ou não, que não há amor que não possa superar e aceitávamos, no entanto, com maior ou menor tranquilidade, que o nosso permanecesse medíocre. Mas a recordação é mais exigente."
E outro personagem, Cottard, ficava “torcendo” que a peste demorasse a passar, porque assim, como era culpado de um crime, esqueceriam dele enquanto estivessem envolvidos com a peste.
"Contudo, havia na cidade um homem que não parecia nem esgotado, nem desanimado e que continuava a ser a imagem viva da satisfação. Era Cottard."
Enfim, recomendo o livro que é brilhante!
A peste era igual para todos, não havia exceção. Pobre, rico, político, padre, médico. Todos tornavam-se iguais na epidemia.
"A peste que pela imparcialidade eficaz com que exercia seu ministério, deveria ter reforçado a igualdade entre nossos concidadãos pelo jogo normal dos egoísmos, tornava, ao contrário, mais acentuado no coração dos homens o sentimento da injustiça. Restava, é bem verdade, a igualdade irrepreensível da morte, mas essa, ninguém queria."
Após a leitura assistindo e lendo resenhas, descobri que o livro foi escrito em 1947, após a Segunda Guerra Mundial e que A Peste significaria o Nazismo. Sendo assim, as minhas observações estão com outro viés e somente em uma leitura futura poderei reler o livro sob esse segundo viés. Mas de qualquer maneira, sinto que aprendi muito com essa leitura prazerosa e cheia de nuances.