Lukedo 24/07/2021
A Peste
The Plague - Albert Camus (1 reading): 76/100
Existe algo de poético na fragilidade que envolve a vida humana, e essa se torna clara na situação que envolve a trama do livro.
Sinceramente, sempre tive um preconceito com Camus. Toda essa filosofia absurdista, vinda de um ateu materialista, simplesmente nunca fez minha mente.
Fácil imaginar que eu sempre me esquivei de ler qualquer obra dele, porém, ao visitar meus avós, encontrei uma edição datada do natal de 75 na biblioteca do meu avô ? presente que ele recebeu da minha falecida tia-avó, que nunca tive a oportunidade de conhecer.
Então, me coloquei na leitura desse livro por alguns dias, e ele me surpreendeu por não ser um panfleto filosófico do existencialismo disfarçado de romance, mas um livro realmente interessante e consistente.
O início da narrativa nos apresenta Rieux, um médico que eventualmente travará uma espécie de embate contra a peste, na tentativa de salvar o máximo de pessoas possíveis.
A retórica de Camus é seca, o que me leva a acreditar que este é um dos motivos dos quais esse livro atingiu um status "cult". Frases como "sofrem, sem saber porquê" e "a peste é a vida" são recorrentes na narrativa, que mesmo sendo frases que pouco adicionam na descrição, incrementam para a atmosfera do livro.
Personagens como Paneloux, Cottard e Grand são, definitivamente, a melhor parte do livro. Seus dilemas pessoais são narrados de forma magistral. As crises de fé do padre, o remorso de Grand e a felicidade ? e eventual angústia ? de Cottard (que eu diria ser o personagem mais interessante do livro), tornam a narrativa mais interessante até mesmo do que quando é narrado os eventos dos personagens "principais", como Rieux, Tarrou e Rambert.
Os "tramas secundários", que foi a forma que decidi denominar essas sessões, são outra parte interessante do livro. Muitas vezes o narrador descreve eventos que generaliza os cidadãos de Oran, assim vemos reações gerais à epidemia, como crises de fé, rebeliões contra a injustiça e insatisfação com o governo.
A parte alegórica do livro é, também, interessante. A peste mostra o absurdo da vida, que pode subitamente nos pôr de cabeça pra baixo. Clichê, porém bem executada.
No geral, a trama é interessante, mas seus pontos negativos também são gritantes: A retórica de Camus por vezes alterna entre cansativa e prolixa para seca e sem-graça. Existem capítulos que parecem inúteis, e a revelação do último capítulo chega a ser decepcionante, como que se o autor teve a idéia de última hora.
No fim, A Peste é um bom livro, mas a parte mais interessante dele é contrapor-o com a situação que passamos na pandemia de 2020, eu gostaria de ter o lido antes desse evento, pois desde então, essa leitura nunca mais será a mesma. Assim sendo, apesar de não ser um livro perfeito, é uma leitura que eu recomendo para todos.