lacklusterstarchild 03/05/2024
Rilke: o primeiro poeta são de cabeça?
Atendendo a um simples pedido de conselhos, Rainer Maria Rilke compõem essas cartas com evidente candor e apreço pelo destinatário que deseja seguir seus passos - o jovem poeta Franz Kappus. Rilke não comanda leituras obrigatórias ou uma rigoroza rotina de estudos, mas traz questionamentos emblemáticos - como " Tenho necessidade de escrever?" - que moldam sua filosofia, não somente profissional como de vida.
"Se o cotidiano lhe parece pobre, não reclame dele; reclame de si mesmo, diga que não é poeta o suficiente para acessar as suas riquezas, pois para o criador não existe pobreza ou algum lugar pobre e indiferente."
Dentre os seus valores mais preciosos está sua reverência à solidão, já que "no fundo, e justamente nas coisas mais profundas e mais importantes, estamos absolutamente sozinhos". Sua paixão pelos outros, porém, emerge quando o poeta discorre sobre a beleza e amor inerte à natureza, por lhe permitir pertencer a um conjunto de "criadores", daqueles que dão à luz. Além da solidão, o artista clama paciência de seu aprendiz:
"Não procure agora pelas respostas que não podem ser dadas, porque ainda não poderia vivê-las. E trata-se aqui de viver tudo. Viva agora as dúvidas."
Minha carta favorita é a sobre o amor - em que o autor tece uma crítica ao apressamente desse que considera um processo de aprendizagem e amadurecimento individual -, e o feminismo (inesperado), na qual ele conclui:
"Esse amor mais humano (que se realizará de modo infinitamente atencioso e suave, bom e claro, na união e na dissolução) vai se assemelhar àquele que preparamos lutando com esforço, ao amor que consiste em duas solidões se protegendo, se delimitando e se congraçando."
Ao final, os questionamentos de Rilke revelam-se a estrada de pedrinhas brilhantes que movem o poeta ao encontro da solidão, melancolia, alteridade estranha e, ainda, ao florecimento de seu contentamento, coragem e esperança.