Amélia Galvão 10/04/2020Essa foi minha primeira leitura de Dom Casmurro, mas obviamente já tinha ouvido falar do famosíssimo romance e escutado a pergunta "Será que Capitu traiu?". Pensava eu que iria encontrar apenas a história de Capitu e Bentinho, mas estava enganada, esquecida de que o livro foi escrito por Machado de Assis, o qual não carrega à toa o epíteto de bruxo do Cosme e Velho.
O que eu quero dizer com isso? Ler Dom Casmurro não se restringe a conhecer a história de Bentinho e Capitu, a tentar descobrir se houve ou não uma traição. É uma experiência muito além. É o apreciar cada capítulo por si só, pois a escrita machadiana é impressionante. A maneira como ele brinca com as palavras, a sua ironia, o seu deboche e o seu humor são deliciosos. Além de nos entretermos com Capitu, Bentinho e Escobar, estamos a todo momento nos deleitando com o uso da língua e o jeito de narrar hipnotizante e único do bruxo Machado.
Mas e o que falar sobre a traição? Sinceramente, eu não sei dizer se aconteceu ou não. O livro é todo narrado pela perspectiva de Bentinho e, por isso, não sabemos até que ponto o que ele está nos passando é realmente verdade ou se é coisa só da cabeça dele. O genial é que Machado escreve as cenas, falas e trejeitos da Capitu de maneira muito ambígua, podendo ser tanto interpretados como uma sincera ingenuidade ou como uma tremenda dissimulação, pelo menos foi o que achei. Assim, senti-me perdida, sem saber o que Capitu pensava, pois eu não tinha como a ouvir e nem escutar outras pessoas, apenas Bentinho, o qual narra tudo de maneira completamente enviesada pelo seu ciúme doentio.
Enfim, trata-se de um baita livro divertidíssimo, escrito primorosamente e cheio de críticas a nossa sociedade e muitos dos seus valores.
P.S. Recomendo a edição da editora Panda Books, que além de notas explicativas, traz também ilustrações e texto integral numa forma bem dinâmica.