Angústia

Angústia Graciliano Ramos




Resenhas - Angústia


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Gaby 03/09/2021

Bom
Só li para fazer a prova da FUVEST no final do ano, mas gostei bastante apesar de achar um pouco difícil no começo
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Fabio Shiva 01/09/2021

Profético e... angustiante!
Todo livro tem a sua hora e vez de ser lido. Às vezes uma leitura não nos agrada ou, pior ainda, não nos diz nada. Mas a culpa não necessariamente é do livro, nem nossa: simplesmente não era o momento certo e propício de ler aquele texto específico.

Pensei muito nisso ao finalmente engrenar na leitura dessa impressionante “Angústia” de Graciliano Ramos, que terminei com a consciência de estar diante de uma das obras-primas de nossa Literatura. Contudo tentei ler o livro pela primeira vez em 2017, e a leitura se arrastou até estagnar na página 38. Dessa vez, no entanto, li quase que prendendo a respiração, de tanto suspense, e tive que me conter para não grifar todas as páginas. O que me trouxe uma inevitável pergunta: uma vez que o livro continuava o mesmo, o que mudou em mim e no mundo entre uma leitura e outra?

É certo que nesse período relativamente curto de 4 anos mudou muita coisa. Em 2017, por exemplo, Jair Bolsonaro era apenas mais um dos “malucos” que infestam a política brasileira, potencialmente perigoso, sim, mas acima de tudo inexpressivo... Quadro bem diferente é o que tenho diante de mim nesse 2021, quando infelizmente já me acostumei a ver tantos parentes e pessoas que eu admirava defendendo as ideias abomináveis e absurdas desse mesmo “maluco”, hoje alçado à presidência do Brasil e promovendo tamanho despropósito de malefícios que as gerações futuras terão dificuldade em calcular...

Pois imaginem o meu espanto e surpresa ao encontrar nesse romance de 1936 a figura de Julião Tavares, que bem poderia ser descrito como o maior bolsominion da Literatura Brasileira:

“Julião Tavares não tinha nenhuma das qualidades que lhe atribuíam. Era um sujeito gordo, vermelho, risonho, patriota, falador e escrevedor.”

“Esse Julião, literato e bacharel, filho de um deles, tinha os dentes miúdos, afiados, e devia ser um rato, como o pai. Reacionário e católico.
– Por disciplina, entende? Considero a religião um sustentáculo da ordem, uma necessidade social.
– Se o senhor permite...
E divergi dele, porque o achei horrivelmente antipático.”

“O que não achava certo era ouvir Julião Tavares todos os dias afirmar, em linguagem pulha, que o Brasil é um mundo, os poetas alagoanos uns poetas enormes e Tavares pai, chefe da firma Tavares & Cia., um talento notável, porque juntou dinheiro. Essas coisas a gente diz no jornal, e nenhuma pessoa medianamente sensata liga importância a elas. Mas na sala de jantar, fumando, de perna trançada, é falta de vergonha. Francamente, é falta de vergonha.”

“E um cachorro daquele fazia versos, era poeta.”

Ler sobre o cinismo cheio de empáfia de Julião Tavares me ajudou a compreender atitudes até então inexplicáveis de tantos parentes e ex-amigos. E principalmente, me ajudou a perceber como Bolsonaro é apenas o catalisador dessas sombras e imundícies psicológicas que atendem pelo nome de “bolsonarismo” e que, é forçoso reconhecer, estão entranhadas como piche em nossa identidade nacional. Tomar consciência disso é renovar a confiança no processo de cura que vem a reboque do próprio bolsonarismo: só podemos curar aquilo que somos capazes de reconhecer como doença. E por isso, dentre tantos outros motivos, dou graças à Literatura!

Para não deixar dúvida de que os atuais problemas do Brasil (e do mundo) já estavam ativos há muito tempo, vejam que impressionante descrição Graciliano Ramos nos traz do fenômeno das Fake News, décadas antes da Internet e antes até mesmo da televisão:

“Até ali, àquela hora, surgia o nome do vizinho. O que mais me aborrecia era não saber se as pessoas que falavam dele acreditavam na história suja. Enchia-me de raiva por não conseguir me livrar dos fuxicos. Desprezava involuntariamente o desgraçado Lobisomem. Se aquilo fosse verdade? Não tinha verossimilhança, era aleive, disparate. Mas tanta gente repetindo as mesmas palavras.... E casos iguais já se tinham visto.”

Como um toque de ironia involuntária, até o terraplanismo é sugerido no texto de Graciliano:

“As aparências mentem. A terra não é redonda?”

Preciso dizer que esse assunto todo é nota de rodapé em “Angústia”, que trata de questões muito outras e mais amplas. Preciso mencionar, sobre a estrutura geral da trama e dos personagens, um recurso que achei genial para expressar a opressiva sensação de apequenamento, que acompanha toda a narrativa. O avô do protagonista-narrador chamava-se Trajano Pereira de Aquino Cavalcante e Silva, era realizador de façanhas boas e más. Já com o pai do protagonista começa o reducionismo:

“E meu pai, reduzido a Camilo Pereira da Silva, ficava dias inteiros manzanzando numa rede.”

À redução na extensão do nome acompanha uma diminuição na própria dignidade humana do personagem. E daí calcule-se o efeito quando descobrimos que o narrador da história chama-se simplesmente Luís da Silva! É especialmente relevante o arqui-inimigo de Luís ser o já mencionado Julião Tavares, que como ele só tem dois nomes, mas traz um aumentativo em seu nome de batismo que o torna psicologicamente maior que Luís.

Se eu fosse falar tudo o que esse livro me fez pensar, teria que escrever outro livro. Por isso me limito a destacar ainda as pérolas ásperas que a leitura de Graciliano proporciona para aqueles que amam ler e escrever:

“Passo diante de uma livraria, olho com desgosto as vitrinas, tenho a impressão de que se acham ali pessoas, exibindo títulos e preços nos rostos, vendendo-se. É uma espécie de prostituição.”

“Distraía-me com leituras inúteis. Quando me caía nas mãos uma obra ordinária, ficava contentíssimo:
– Ora, muito bem. Isto é tão ruim que eu, com trabalho, poderia fazer coisa igual.
Os livros idiotas animam a gente. Se não fossem eles, nem sei quem se atreveria a começar.”

“– Fulano é bom escritor, Luís?
Quando não conheço Fulano, respondo sempre:
– É uma besta.
E os rapazes acreditam.”

“A linguagem escrita é uma safadeza que vocês inventaram para enganar a humanidade, em negócios ou como mentiras.”

“Esforçava-me por me dedicar às minhas ocupações cacetes: (...) ler romances e arranjar uma opinião sobre eles. Não há maçada pior. A princípio a gente lê por gosto. Mas quando aquilo se torna obrigação e é preciso o sujeito dizer se a coisa é boa ou não, não há livro que não seja um estrupício.”

“O que eu precisava era ler um romance fantástico, um romance besta, em que os homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando-se, traindo-se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente essas leituras já não me comovem.”

Ainda nesse tema da literatura, é incrivelmente profética essa passagem em que Luís fica obcecado pela ideia de ser preso e escrever um livro na cadeia:

“Faria um livro na prisão. Amarelo, papudo, faria um grande livro, que seria traduzido e circularia em muitos países. Escrevê-lo-ia a lápis, em papel de embrulho, nas margens de jornais velhos.”

“A ideia do livro aparecia com regularidade. Tentei afastá-la, porque realmente era absurdo escrever um livro numa rede, numa esteira, nas pedras cobertas de lama, pus, escarro e sangue. (...) O livro só poderia ser escrito na prisão.”

Esses trechos são duplamente impressionantes, quando sabemos que “Angústia” foi publicado quando Graciliano Ramos de fato havia sido preso pelo governo de Getúlio Vargas, pouco antes da implantação a Ditadura do Estado Novo, e que essa experiência na prisão acabou gerando talvez a maior obra de Graciliano Ramos, “Memórias do Cárcere” (https://youtu.be/Qz2iZs7cea4).

Encerro essa longa resenha com mais algumas citações poderosas da pena desse grande autor brasileiro, com gratidão e orgulho por ter nascido no mesmo país que ele:

“Esta vida monótona, agarrada à banca das nove horas ao meio-dia e das duas às cinco, é estúpida. Vida de sururu.”

“Quando a realidade me entra pelos olhos, o meu pequeno mundo desaba.”

“Para que um homem discutir, se não é obrigado a isso?”

“Como certos acontecimentos insignificantes tomam vulto, perturbam a gente! Vamos andando sem nada ver. O mundo é empastado e nevoento. Súbito uma coisa entre mil nos desperta a atenção e nos acompanha. Não sei se com os outros se dá o mesmo. Comigo é assim.”

“Movemo-nos como peças de um relógio cansado. As nossas rodas velhas, de dentes gastos, entrosam-se mal a outras rodas velhas, de dentes gastos.”

E viva Graciliano Ramos!

https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2021/09/angustia-graciliano-ramos.html



site: https://www.facebook.com/sincronicidio
Mau Correia 28/03/2022minha estante
A melhor resenha que li sobre o livro.


Fabio Shiva 09/04/2022minha estante
Gratidão por sua Luz somando!


Andréia Barbosa 07/08/2022minha estante
Resenha maravilhosa!


Fabio Shiva 06/10/2022minha estante
Gratidão, Andréia!


kimberlly 27/11/2022minha estante
A melhor resenha que já li, parabéns!.


Fabio Shiva 28/11/2022minha estante
Valeu por essa energia boa, Kimberly! Viva Graciliano!


Nic â 29/11/2022minha estante
Que resenha incrível!


Ghafa 07/02/2023minha estante
resenha maravilhosa!! e viva graciliano!


Fabio Shiva 24/06/2023minha estante
Valeu pelos comentários e por essa energia boa! Viva Graciliano!


robertallaura 07/07/2023minha estante
Senti vontade de ler o livro novamente, após rever esta resenha. Que abordagem magnífica!


Fabio Shiva 22/07/2023minha estante
OI, Roberta! Gratidão pelo comentário e por essa energia boa! Depois de reler comente o que achou dessa segunda leitura, ok?


Gabriel2709 29/07/2023minha estante
Cara é que nem você disse, as vezes não é uma leitura que agrada, ou não faz sentido pra maioria que lê ou simplesmente vê de fora.
É muito do momento mesmo.
E esse livro em específico eu estava naquelas fases de amor não correspondido da vida, e esse fato me fez se atirar esse título "angústia" que ninguém tinha me falado antes, e bom quando comecei não csg parar de ler, o livro fala muito sobre perdas, e é algo se você não estiver na vibe, não vai entender legal, vai achar que Luiz era um louco, mas quem é sempre sóbrio de espírito nesse mundo? Momentos quando ele escuta Marina chorar no banheiro pela sua parede fumando um cigarro deitado no chão de seu banheiro. Me faz pensar que era simplesmente a escassa compaixão que tiveram por ele. Tanto na infância, pela perda de seu pai Camilo quando adulto.
E Julião aparecer e ele fazer o que fez, mesmo com a hesitação que teve momentos antes de seu ato, é algo que ele tenta lidar com a melhor maneira possível, mas devido às circunstâncias em que a realidade o coloca, ele não nem um menor amparo e conselhos pra tomar decisões. É ele por ele mesmo.
"Quando me deparo com a realidade, meu pequeno mundo desaba."
E essa solidão, angústia existêncial, pra mim é algo que graciliano passa na obra, como uma crítica a esse desamparo de um ser indigente, na sociedade brasileira.
O mau presságio o perseguindo do começo ao fim da obra.
E esse livro ainda me faz pensar muito sobre o Luís, e o medo de ser ele.
Abandonado, rejeitado, ofuscado por aqueles que o cercam.


Victor 10/08/2023minha estante
Que resenha magnífica!!!


Henrique736 29/08/2023minha estante
Admirado com a sua sinopse ??????????


Fabio Shiva 30/08/2023minha estante
Gratidão pelos comentários e por essa energia boa, amigos!


Bia 06/02/2024minha estante
Uaaau! Que resenha!


Andréia Barbosa 29/08/2024minha estante
Não sei se fico mais feliz por ler essa resenha que sem sombra de dúvidas, me fez querer ler o livro, ou se por todos nos comentários, estarem de acordo que o período pós eleição do Bolsonaro foi uma loucura sem precedentes. Um sopro de lucidez! Obrigada por isso??


Bruna Maria 19/09/2024minha estante
Fabio, que resenha maravilhosa!
Lerei este livro na semana que vem como parte do desafio do Pedro Pacífico, sendo este o livro do mês de outubro do desafio. Fiquei muito animada para a leitura após a sua resenha!




Aline Oliveira 29/08/2021

Angústia
Tem uma narrativa envolvente e o título precede, porque é muita angústia passada... esse livro desperta um monte de sentimentos e não da pra confiar muito nesse Luís.
Me incomodou o fato da história não ser linear, isso confundiu um pouco, porém adorei o livro.
Toda obsessão dele por Marina, vai lá vem cá, as reflexões sobre a própria vida, frustrações e loucuras, é o tipo de leitura que você começa e quer saber o final.
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Sophia.Rezler 25/08/2021

Em primeiro lugar, eu não vou dar nota neste livro e se estiver aparecendo alguma pode desconsiderar. Em segundo, apesar de eu ter gostado do modo como conduziu essa história, da cronologia diferente e de seus personagens cheios de facetas eu fui obrigada a ler esse livro e estava tão atrasada na leitura que eu tive que devorá-lo em um dia e meio para conseguir participar do debate. Resumindo, eu não consegui aproveitar adequadamente essa história e por isso acabei me cansando em muitas partes da paranóia do personagem e estava tão ansiosa pra terminar a tempo que comi algumas palavras do livro que eu achava não importante pro debate.

Quando eu reler eu mudo essa resenha e coloco uma nota verdadeira.
larissa.oliveir 06/09/2021minha estante
nem precisa puta livro ruim da porra




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Debora 19/08/2021

Quando o título demonstra perfeitamente o que a leitura traz
Graciliano Ramos é tão magistral em sua escrita que, neste livro, é possível sentir a Angústia junto com o personagem. E esta angústia tem tantas fontes...
A angústia do menino que cresce no sertão em uma família estritamente masculina e, de certa forma, bem fechada. A angústia do jovem órfão que, sozinho, tem que dar um jeito de sobreviver na cidade. A angústia da solidão nesta cidade. A angústia da falta de relações verdadeiras e profundas. A angústia de ser "parafuso que gira no mesmo lugar" - assim Luis se refere à sua profissão, servidor público (faz, faz, faz sem sair do lugar). A angústia da falta de dinheiro, da fome, da pobreza, da necessidade. E, também, a angústia do ciúmes de um amor perdido para alguém com mais dinheiro - mas muito menos amor...
Esta angústia reflete na forma como Luis, narrador-protagonista, vê a vida e, portanto, se expressa.
Mas não pensem que, por isso, a leitura é chata. De forma alguma, ela é super reflexiva e interessante. Em paralelo, aprendemos um pouco sobre a Alagoas da década de 30. Vale a pena!
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Anderson 16/08/2021

Mergulho na consciência
Um daqueles livros de fluxo de consciência em que as idas e vindas do pensamento podem ser fascinantes, mas também um tanto perturbadores. Mesmo não tendo me prendido muito, achei um bom livro.
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lorena 15/08/2021

"i can fix him"
lindo o amor. mas não o dele.
mas gostei muito, achei cativante, o final é (como é de se esperar) angustiante e a história em si é tão trágica quanto bonita. a escolha das palavras é cirúrgica, aulas cria. graciliano foi preso por excesso de talento é verdade
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belovend 13/08/2021

O nome realmente faz justiça ao livro, é angustiante estar dentro da cabeça e das vivências de Luis da Silva. Graciliano Ramos faz um trabalho maravilho expondo a vida da classe trabalhadora e das classes menos abastadas na década 30. É um ótimo livro para quem gosta da literatura brasileira, mas realmente não é algo fácil de se ler. Além do conteúdo pesado, a forma de escrita do autor é diferente, com alternâncias repentinas entre o passado e o presente, mas apesar dessa ??dificuldade?? é um livro maravilhoso!
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Paulo 11/08/2021

Uma das obras literárias obrigatórias da FUVEST. Sou leitor apaixonado, dependente, mas ter de estudar a quantidade absurda de conteúdo para vestibulares (plural, múltiplos) mais leitura obrigatória é desesperador, sendo que FUVEST tem a sua lista e outros vestibulares, como a COMVEST, têm a sua própria. Se oficializei 52 livros ano passado, esse ano demorei pouco mais de 2 meses para ler essa única obra, que é mais ou menos a minha sétima do ano, chegando a sentir desprazer quando, já irritado por não conseguir terminar e cansado tanto da forma quanto do conteúdo, ia me aproximando do final.

Ironicamente, mas não desde o princípio, “Angústia” me foi um tanto desgastante, para não apelar para “angustiante”, pelo mencionado acima somado ao boomerang de passados e presente que o eu lírico atira durante o enredo. O romance é em primeira pessoa no presente/passado recente, mas Luís da Silva, o protagonista pobre e deprimido, praticamente niilista, vai e volta na sua narração, às vezes causando confusão com suas mudanças e acoplamentos de tempos repentinos, especialmente no final do livro, em que o quase delírio que o acompanha durante a história vira delírio de fato e sua narração fica confusa, ele se embola tanto (não o autor, Graciliano Ramos, mas o personagem-narrador) por causa de seu estado psicológico que existem algumas páginas mais para o final que não têm parágrafo, o que me lembrou “O Processo”, de Franz Kafka. Uma certa situação sua me lembrou também o conto “O Coração Delator”, de Edgar Allan Poe, e ambos têm a capacidade de fazer o leitor sentir a tensão, a densidade do desespero da personagem por conta de sua narração psicológica, porque esse é um romance profundamente psicológico junto a críticas sociais, publicado em 1936 quando Ramos estava preso na ditadura Vargas.
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Julhaodobem 10/08/2021

Um livro Angustiante
A literatura é um mar de surpresas, sejam boas ou ruins, fantásticas ou neuróticas ao ponto de vermos pessoas derretendo na hora do almoço. Angustia de Graciliano Ramos é sem sombra de dúvidas o livro que mais me causou falta de ar e desconforto neste ano de 2021. Essa falta de respiração aos leigos pode parecer uma característica negativa, até estranha ligando-se a está obra, mas para um leitore como eu, acredito para outres também, é um dos pontos necessários para olhar as letrinhas miúdas do papel e dizer "uau". Essa palavra para nós detentores do poder de criar mundos entre linhas neurais é o ponto para chamarmos uma obra que estará lá, na biblioteca mental para toda vida. Assim, entendo que para muitos este livro é irritante, chato, podre, infeliz e desprovido de intelecto. Não os julgo pois de gosto existem vários, além do tempo que pois se eu tivesse lido este livro há 4 anos atrás acharia uma história sem sentido. Logo, ler este livro mais velho e relativamente pleno em minhas faculdades mentais me deu uma bagagem compacta e forte para entender a literatura de Graciliano, um escritor que como outros em tempos antidemocráticos só suas vidas já são algo impressionante por viverem em épocas de tiranos e generais falsos.

Angustia é um livro que foi lançado com vários erros em sua escrita mas não é uma literatura barata. Graciliano Ramos foi preso antes que pudesse fazer os retoques finais da obra, o motivo de sua prisão até hoje não esta certo mas quando pegamos o contexto histórico já é possível fazer algumas teorias interessantes. A obra faz parte da 2° fase do modernismo, na prosa uma forma mais neo-realista onde a política, psicologia e características reais começam a fazer parte dos escritores como um reflexo da sociedade. Com uma crise de 29 e um baixinho chamado Getúlio tendo sua ascensão política no Brasil, se torna um prato cheio para os livros escritos na época. O que se percebe profundamente no livro são as referências a política e a forma que nos é mostrado os personagens que convivem ao longo da narrativa em seus modos sociais nos anos de 1930. Logo, não se tem muito em Angustia uma preocupação com o proletariado, que antes em O Cortiço tinha-se uma grande preocupação com classes sociais. Agora é algo mais psicológico, acompanhamos os personagens olhando para dentro do protagonista entre suas vontades. Portanto, com estas características da 2° fase do modernismo o romance se torna a mente dos personagens, principalmente do protagonista, deixando a leitura por mais que seja um livro que é preciso se acostumar com a escrita, algo mais relacionado ao que lemos hoje entre a literatura atual.

Assim, além desta preocupação com a linguagem há características que lembram profundamente o Surrealismo. Um movimento artístico criado em 1920 com obras fantásticas e distorcida da nossa realidade, fez sua história na arte e influenciou o próprio modernismo. Com certeza já vimos alguma pintura desta época, como Frida Kahlo ou Pablo Picasso. Então, há partes do livro que se transformam em uma pinturas na nossa mente, descrições tão bem colocadas que viram uma perturbação no momento que o protagonista passa, causando uma sensação estranha mas que faz jus ao que o livro promete desde o início, angustia. O título já nos passa que este livro não nos causará sensações boas, o sofrimento, a dor e a perda de ar estarão presentes no livro e este título nos dá uma base do que esperar na obra. Pode parecer algo sem sentido mas depois que começamos a ler, a história e a narrativa melhoram o título, torna-se algo realmente angustiante por causa dos acontecimentos ao longo da historia. Portanto este livro mostra que o título por mais simples que pareça, se for bem colocado pode transferir seu significado com apenas uma palavra.

Com toda está angustia é de se esperar que o protagonista seja uma pessoa com alguns parafusos soltos. Vemos grandes momentos neuróticos que basicamente é uma mistura de Freud explica e Coringa sem sentido. Isto faz a vários momentos termos uma sensação de loucura que tenta se esconder em momentos do protagonista como um típico homem dos anos 30 mas que logo começa ruir diante de sua psicose, fazendo isto como uma forma de nos contar sobre sua vida e certos atos em torno de seu cotidiano, mas tudo isto enquanto brinca com o poder de nos mostrar o passado e o futuro ao ponto que nós leitores e leitoras não conseguimos distinguir de propósito pelo protagonista qual o significado de tantas histórias desconexas da realidade mas que fazem sentido para quem está contando. Com estas características há também outro movimento artístico importante, o Expressionismo que surgiu no século XX na Alemanha que tinha como seu principal objetivo expressar sentimento e emoção nas pinturas, passando uma sensação de amor, tristeza, dor ou loucura. Alguns artistas famosos da época que deram sua arte e que inspiraram várias pessoas até hoje são Anita Malfatti, Gabriele Münter e Francis Bacon, artistas que com suas obras inspiraram o autor e o modernismo, influenciando não só a arte mas também outras formas como a literatura, que em Angustia passa este movimento com o peso neurótico do personagem, tornando o livro algo sufocante na leitura.

A melhor frase que ouvi sobre a escrita de Angustia foi no clube do livro que participo no canal do YouTube Vá ler o livro comandado por Tatiane Leite: "É um livro gorduroso". De fato, enquanto lia a obra esta frase vai fazendo cada vez mais sentido, o que faz parte da história da publicação do livro onde o autor foi preso antes de conseguir fazer suas devidas correções, mas que conseguiu se conectar com a história onde nos é contada, com o estranho e louco da realidade que perpétua sensações de angustia. Os erros ortográficos pouco importam quando nos conectamos ao que o protagonista deseja mostrar, as palavras rápidas, algumas de baixo escalão, fazem com que faça sentido enquanto a narrativa vai se tornando mais apertada. Também deve ser contestado um ponto importante, Angustia um é clássico, um livro que pouco importa sua ortografia e gramática pois já se tornou uma ponte para outros tempos na história brasileira, assim como todos os clássicos nacionais ou internacionais. O livro tem o poder de existir até hoje em novas capas e cores mas guardando o mesmo texto gorduroso escrito por Graciliano Ramos.

A forma como é colocado o narrador é um agravante que aumenta o poder desta história. Uma voz que lembrei ao longo do livro vários exemplos de pessoas estranhas, seres que estão em todos os cantos da sociedade aumentando seu ego pela loucura e a sensação de estar certo por conhecer apenas a sua visão. Isto é retratado despercebido no começo da obra, pelo menos ao meu ver, mas as mudanças dos causos contados me fez começar a criticar as escolhas e ações deste narrador, pois se você é ao menos crítico por certos fatos da sociedade começa a estranhar a visão desta pessoa que narra as aventuras e sofrimentos dos personagens a sua volta. Logo, a loucura aparece aos poucos como um dos encostos que não vai embora, aumenta a cada dia até certo ponto que trava a pessoa. Isto acompanhamos em todo o livro de uma maneira com o tempo certo, ficando mais forte aos poucos até escalar em momentos impressionistas e psicóticos, durante a leitura nestes momentos quem esta em um dia ruim e doloroso é possível se sentir mal e constrangido mesmo que esteja sozinho lendo o livro, são sensações entre o narrador e a loucura que vão transformando o livro em algo pesado psicologicamente, não torna o leitor louco mas o perturba enquanto está com o livro aberto. Portanto, por mais que torne a leitura algo difícil, o leitor que entende a loucura da obra mesmo que doa, a curiosidade que vem a seguir é mais forte do que a perturbação do narrador.

A intelectualidade que nasce entre a loucura do protagonista é de relance uma crítica ao intelectual da época. Um reflexo que passa para hoje com algumas diferenças, atualmente por mais que a inteligência seja algo importante é ainda desvalorizada principalmente em países subdesenvolvidos como no Brasil, por conta da nossa educação e comportamento colonial. Assim, tratamos a intelectualidade como algo "vagabundo" ou "preguiçoso", tornando grande parte da população fácil de ser controlada. Em Angustia percebe-se este preconceito na forma de um personagem encarar seu trabalho e como enxerga que os outros vêem a sua profissão, com a amargura e a loucura por conta do desprezo de sua inteligência, onde a sociedade não se importa com o uso do seu trabalho não braçal, o que lembra como eram as pessoas da época, pois em 1930 o Brasil era mais da metade analfabeto e a maioria agrícola, só o campo era a visão de mundo dos brasileiros. Logo, o intelectual não valia muita coisa, ainda mais se era uma pessoa pobre que não conseguia o seu sustento, assim percebe-se no livro por meio do personagem essa derrota na sua profissão e na vida pois era um intelectual pobre e para a sociedade é como ser um louco sem nada. Portanto, ser alguém na sociedade daquela época fosse um intelectual teria ao menos que ser rico, senão fosse era excluído da sociedade como um fracasso no meio que vive e um louco vagabundo por não estar trabalhando de verdade na comunidade onde sobrevive.

Angustia de Graciliano Ramos foi um livro onde a maior parte me peguei sufocando e interessado na leitura. Um livro onde a psicologia, a visão de uma sociedade e críticas sociais se misturam em uma batalha neurótica durante a leitura. O livro mistura de formas complexas e eufóricas a história que faz perceber suas referências de loucura nas ações do protagonista. É realmente um livro onde o início para os leigos em clássicos brasileiros fica difícil e realmente angustiante. Por isso, como li esta obra com aulas e conversas em um clube do livro, me deu uma base para entender e acabei gostando da leitura de Graciliano Ramos. Não é forçar a ler um livro brasileiro mas na verdade fazer o que todo leitor faz ao ler um livro, conhecer a história e o autor, por isso um clube do livro é tão importante neste caso, tanto para leitores e leitoras amantes de um bom livro, como também para aqueles que tem a curiosidade de conhecer algo novo por meio de um livro. Assim, por mais que Angustia me deixou angustiado, me mostrou um conhecimento que nem fazia ideia que existia, misturar a arte nas palavra, a política com efeitos da narrativa, todas estas características de apenas um livro mostram que a literatura brasileira vale muito, o que é preciso é dar uma chance para esses livros, ler por gosto, se conectar como fazemos com livros estrangeiros a todo momento e desta forma nos mergulharmos em sensações diversas que o poder de palavras bem colocadas nos fazem bons ou neuróticos.


site: https://jornalficticio.blogspot.com/
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Vilamarc 08/08/2021

Fluxos de consciência
O que esperar de um livro de título "Angústia" ? Eu iniciei sem perspectiva alguma, a não ser a participação numa LC. Não tinha referências nenhuma de enredo, contexto ou pretexto...
Fui do total estranhamento da narrativa, sisuda, truncada, incompreensível à alegre descoberta de um fluxo de consciência que dá conta de um momento difícil da história brasileira nos anos 1930.
Sim, Graciliano Ramos, que nos deu livros maravilhosos, explodiu sua escrita em sentimentos tortuosos que anteciparam sua prisão pela Ditadura Vargas em 1936, mesmo ano da publicação desse livro.
Angústia conta a história de Seu Luisinho (Luis da Silva e sua Marina), funcionário público, escritor e jornalista, e que talvez por isso, se encontrasse numa intercessão de sentimentos e posicionamento contraditórios.
O que nos revela, nuvens embaçadas de tristeza, abandono, revolta, desejo reprimido, inveja, ciúmes, cólera, remorsos, autopunição, irracionalidade. Tudo isso nos acontecimentos cotidianos de sua vida, amvientada em Maceió das Alagoas nos anos de instauração da República e do Coronelismo.
Angústia não é um livro fácil, não é um livro pra deleite. É um livro incômodo e de registro. Fruto de uma vivência atordoante e de um desejo de imprimir na literatura nacional algo novo e de rupturas.
Debora 08/08/2021minha estante
Excelente resenha! Estou no início mas já percebi muito do q vc relatou




Carol 07/08/2021

Considerações sobre a obra
Como características gerais do personagem encontra-se uma grande solidão que é descrita ser desde criança, já que o seu pai não lhe permitia brincar com outras crianças. Depois ele vive de cidade em cidade de emprego em emprego, dificultando uma aproximação, um laço com as pessoas.
Em toda narrativa o personagem se mostra como uma pessoa feia, desajeitada, ele tem um alto desprezo pela sua imagem, uma baixa autoestima.

Aos conflitos internos do personagem, a começar pela sexualidade que é um tabu para ele, ao mesmo tempo que ele deseja as mulheres ele condena atitude de algumas mulheres. Ele se incomoda com o barulho da vizinha tendo relações com marido.

Há também no personagem um apego com a vida e as ideologias do período das infância, ele tem uma certa admiração pelo avô que foi um fazendeiro dono de escravos, constantemente ele faz comparações com a forma que as pessoas vivem atualmente e neste período da infância em que a política era outra, era política do coronelismo, o Brasil recém liberto da escravidão onde muitos negros ainda não conseguiram se adequar a nova realidade.
Outro ponto é ele fazer justiça com as próprias mãos, da mesma forma que os jagunços fazia justiça com as próprias mãos, ele sabe que Julião é um homem rico e que os seus crimes iriam sair impunes, então a única forma de puni-lo seria pelas próprias mãos.
Angústia do personagem vem do fato de ter matado Julião então a história começa com ele narrando alguns dias depois da morte do Julião, ele tinha a certeza de que ele vai seria pego que a polícia vai descobrir que foi ele, então ele cai em uma febre delirante por dias e essa angústia consome o corpo dele, ele tem essa certeza de que vai ser pego e pensa em todas as possibilidades e delira.

Outra coisa importante da obra é o retrato daquele período da era Vargas, o personagem tem um emprego público onde ele ganha mal e para poder incrementar a renda ele escreve para um jornal, então ele escreve aquilo que lhe é pedido e ele não assim os próprios escritos outras pessoas assim no lugar dele, então ele tem que escrever coisas que ele não concorda sobre o governo. Há uma passagem que ele fala que as pessoas não têm opinião opinião das pessoas são formadas a partir de jornais da rádio
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Luiz 04/08/2021

achei o final MUITO BOM
Estava pensando em dar 4 estrelas, mas comparando com outros que eu dei, mesmo com o final sendo incrível, não chegou no nível. É uma história legal mas nada que me chama muita atenção, li por conta da escola mesmo kkkkkkkk. Mas o nome "angústia" fica perfeito depois que você termina o livro, o final foi o único momento que me pegou e eu queria ler e não saber de outra coisa.
Enfim quem sabe daqui uns anos eu releia e aprecie mais a obra.
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Isabella Barretto 03/08/2021

A obra faz jus ao título.
O livro é narrado em primeira pessoa, por Luís da Silva (narrador personagem), um homem atormentado que ao longo da história se torna cada vez mais insatisfeito com sua profissão, vida pessoal e com a própria existência (me envolvendo em uma contradição de sentimentos, desde pena, até raiva)

A leitura se torna um pouco densa devido a presença de um fluxo de consciência intenso, "flashbacks", digressões e metáforas. Mas isso, somado ao fato de os personagens no geral não serem nada cativantes, se torna fundamental pra entender os sentimentos angustiantes do protagonista, sendo desafiador estar na mente desse personagem.

Resumindo, por meio de uma escrita impecável, achei que Graciliano realmente conseguiu passar aquilo que ele queria: a angústia (acredito que o fato do autor estar preso pelo governo de Vargas, na época, auxiliou na essência da obra)

Trecho: "Nunca presto atenção as coisas, não sei para que diabo quero olhos. Trancado num quarto, sapecando as pestanas em cima de um livro, como sou vaidoso e como sou besta! (...) Quando a realidade me entra pelos olhos, o meu pequeno mundo desaba"
Evelyn Lorene 03/08/2021minha estante
Resenha fantástica! Vc resumiu com primazia os sentimento q tive com essa luitura, o dualismo de sentimentos q tangem o protagonista! Graciliano é um autor maravilhoso sem sombra de dúvidas!




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