spoiler visualizarmorgan2 20/05/2021
Ótimo para conhecer e aprender técnicas novas de narração
Prévia : não vou reler minha crítica toda pq ficou mt grande e eu ainda tenho que fazer uns trabalhos de escola
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TEM SPOILERS OKAY
(eu vou avisar quando eu chegar nos spoilers)
Por ser leitura obrigatória da fuvest e eu ter passado uns tempos com o preconceito de "livro velho é chato", eu não dava nada por esse livro. Isso, é claro, até eu começar a primeira página do romance.
"Levantei-me há cerca de trinta dias, mas julgo que ainda não me restabeleci completamente. Das visões que me perseguiam naquelas noites compridas umas sombras permanecem, sombras que se misturam à realidade e me produzem calafrios"
Eu li isso e já surtei, completamente apaixonada com o potencial de altos surtos do livro. "Será que o narrador passou por um trauma? Será que ele tem delírios? Será que ele é esquizofrênico?"
Li mais duas páginas e já torcia para o narrador matar alguém
AGORA OS SPOILERS COMEÇAM OKAY
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E EU ACERTEI COMO ASSIM
Luís assassinou Julião Tavares, e então o livro encerra com o delírio
TIPO, QUEEEEEE
eu amei.
Voltando ao ponto, eu simplesmente AMEI o estilo de narrativa de transcrição de pensamento. Me senti dentro da cabeça do Luís da Silva e foi uma experiência maravilhosa, já que antes eu li Meninas Selvagens e eu tive a impressão que a autora tentou usar uma técnica de altos surtos similar a usada em Angústia. A diferença gritante é que Graciliano Ramos acertou a técnica com perfeição e a outra autora não.
Ainda sobre essa técnica de transcrição de pensamento, eu realmente admiro MUITO Graciliano por ter feito tudo com perfeição e em momento algum ter deixado o livro confuso (deixemos o Delírio a parte, já que o objetivo do trecho era mostrar a confusão de Luís da Silva no meio de seu delírio)
Permanecendo em termos mais técnicos, eu adorei a ideia do livro não ser dividido em capítulos tradicionalmente falando, mas sim em divisórias. Eu nunca tinha me deparado com isso e gostei muito da sensação de continuidade (mas ao mesmo tempo quebra) que dá.
Agora sobre o enredo, nenhum plot twist foi uma surpresa para mim, já que eu tive uma aula prévia do livro antes de ler efetivamente. Apesar disso, eu sinto que minha leitura de maneira alguma foi prejudicada, já que o jeito que alguns eventos aconteceram foram totalmente diferentes do que eu tinha imaginado na minha aula.
O momento que Marina descobre que está grávida, por exemplo. Eu nunca que pensaria que Luís da Silva descobriria tudo espionando em seu próprio banheiro. Tipo ???!?!!?!? eu hein, pescotapa.
Em seguida, eu também me surpreendi com a cena do aborto de Marina. Não com o aborto em si, mas com o jeito que os pensamento do Luís foram transcritos. Eu fiquei fascinada com a técnica, de verdade.
Por fim, eu gostaria de destacar mais dois trechos que eu achei fantástico:
1) Luís desenterrando o dinheiro do buraco da Vitória (caraca, que narração!)
2) Os momentos anteriores e posteriores ao assassinato de Julião Tavares (o método ue o Graciliano fez para mostrar que Luís via em Julião muito mais do que um simples cara odioso foi o que me fez classificar essa cena como a minha favorita do livro todo)
Antes de parar aqui esse negócio que deve estar enorme, eu gostaria de fazer um adendo a perfeição desse livro e de Graciliano por
1) O livro foi publicado antes da revisão final, quando o autor ainda estava preso
2) ter conseguido juntar tanto a vertente intimista (com grande teor psicológico) quanto a social (de, adivinha só, crítica social) da segunda fase do Modernismo com tanta perfeição.
Enfim, esse é um livro incrível mesmo, que fez a minha qualidade narrativa melhorar MUITO.