spoiler visualizarThiago Barbosa Santos 17/01/2021
Angústia
Graciliano Ramos é consagrado na nossa literatura sobretudo por VIDAS SECAS, mas tem outros livros tão fantásticos quanto. ANGÚSTIA é um bom exemplo disso. Foi o terceiro romance do autor.
O livro é narrado em primeira pessoa por um narrador cuja angústia é evidentemente demonstrada no texto, quando narra a própria vida, em estado de delírio, desde a infância, com todos os seus traumas, até os perrengues na vida adulta, em uma cidade maior.
Luís da Silva deveria ter nascido em berço de ouro, ser um privilegiado. Era neto de Trajano Pereira de Aquino Cavalcante e Silva, um velho fazendeiro que foi muito perigoso mas que quebrou, o pai de Luís ajudou a arruinar tudo, e ainda bem pequeno o garoto já foi acompanhando a derrocada da família, todas as dificuldades que vieram posteriormente. Teve uma vida já difícil, uma educação dura, sem carinhos e sendo até mesmo torturado pelo pai para que se tornasse um homem. Ele acabou tendo uma formação, estudou e escrevia muito bem, era apaixonado por literatura. Contudo, a convivência naquele ambiente e a educação que recebeu o tornaram um homem rude, perturbado, extremamente angustiado.
Viu o pai e o avô morrerem cedo, em situações até traumáticas, os credores levarem o restinho do que sobrou. Teve logo cedo que se virar, foi para a cidade grande, chegou a passar fome, dormir na rua, mendigar.
Aos poucos, foi conseguindo se ajustar, arrumou um emprego em uma repartição pública. O salário era pouco, o serviço monótono, mas dava ao menos para se manter em condições minimamente dignas.
Ele também, para ganhar um dinheiro a mais, escrevia artigos para jornais por encomenda, dado o talento que tinha para as letras. Era uma espécie de ghost-writer, escrevia para defender as ideias de quem lhe encomendava os textos.
Morava em uma espécie de quitinete e tinha como vizinha Marina, uma moça de família pobre, muito bonita, por quem se apaixonou e chegou a noivar. Porém, ela se deixou seduzir por Julião Tavares, um moço rico, bonito e que costumava deflorar moças pobres como ela. Acabou engravidando do rapaz.
Luís da Silva vai nos contando essa história de uma maneira bem angustiada, pincelando com as passagens da infância. Vamos entendendo como nasceu no coração dele o ódio incontido por Julião Tavares e o dilema interno do protagonista até chegar ao extremo de assassinar estrangulado o rapaz que botou em perdição o grande amor dele.
Voltou para casa eufórico com o ato, pela primeira vez na vida não se sentiu oprimido, e sim o opressor. Porém, tudo aquilo durou pouco, pois logo veio o desespero com a possibilidade de ser descoberto. Tentou desesperadamente se livrar dos vestígios, embriagou-se e sequer teve condições de ir trabalhar no dia seguinte, sufocado com seus fantasmas do passado e do presente.