nflucaa 05/06/2024
O caráter taciturno e mórbido é dominante
Acho que eu teria amado essas duas obras na adolescência. Não que agora não goste, longe disso. Gostei bastante, mas não sou mais de tanto impressionável como era.
Nessa edição que li da editora Nova Fronteira, a qual não indico (se forem ler, leiam a da editora Globo), não há nenhuma nota de rodapé, nenhum tipo de material suplementar. E acredite, Alvares de Azevedo quis mostrar TODAS as referências que ele conhecia, sobretudo no início de ?Noite na taverna?. Daí, portanto, o alto ganho em ler em uma edição que tenha um bom material suplementar, como a já citada edição da Globo. Até mesmo a ordem da leitura, a meu ver, é melhor na da Globo, que traz ?Macário e Noite na taverna?, já que, é possível especular, o fim do primeiro é o início do segundo.
Ambas as obras são ótimas representantes do ultrarromantismo, contendo as características próprias ao movimento: a atmosfera lúgubre e sombria, taciturna até, predominantemente melancólica. O egocentrismo exasperado e as tendências depressivas são marcantes. O caráter geral é mórbido, remetendo muito ao gótico.
Enfim, ?Noite na taverna? traz relatos das peripécias amorosas (e sexuais) de um grupo de amigos que está reunido numa taverna em uma noite de bebedeira. Cada relato é pior que o outro, envolvendo verdadeiros absurdos, como antrop0f4g14, 3stupr0, n3cr0f1l14, inc3st0, etc. Todas as histórias envolvem um fator bizarro algum tipo de absurdo. Alerta, as mulheres são meros objetos dos desejos dos homens aqui, mesmo quando amadas, são amadas enquanto objetos de desejo. É um livro filho de seu tempo, afinal. Vale a pena ler? Bem, acredito que vale. Parece coisa de emo depressivo, então se te apetece, vai fundo.
?Macário? eu gostei bem mais. Aqui temos o jovem Macário tendo como guia e tutor o próprio cramulhão, o diabo em pessoa. Macário é dado aos excessos, às concupiscências. É curioso ver aquela velha trama, já presente em Werther e sua Lotte, nos delírios do sonhador com sua Nástienka, e em tantos outros, da paixão por uma mulher dilacerando o coração dado a excessos. Bem, Macário, ao contrário dos dois que citei, não tem um fim trágico e tristonho, mas continua desregrado: afinal, o capeta é seu guia! Há alguns diálogos morais legais nessa novela, vale muito a leitura.
Ahhh, um adendo: Álvares de Azevedo claramente gostava de escrever pomposamente, então ele usa a segunda pessoa do plural sempre, aquela coisa do ?vós?. Acho enfadonho, mas tô habituado por conta da Bíblia Almeida. A linguagem aqui pode constituir uma barreira, ele usa muitas palavras incomuns para nós. Mas vale o esforço.