Eduarda Graciano do Nascimento 31/03/2016Além da infidelidade Após o retorno do marido (tendo este ficado paraplégico) da guerra, Lady Constance Chatterley se vê presa num casamento sem amor, sem companheirismo, sem sexo e, consequentemente, sem a possibilidade de filhos. Clifford, o Sr. Chatterley, se torna extremamente dependente de Connie (apelido carinhoso de Constance). Ela é sua enfermeira, confidente e sua distração. Seus dias estão fadados à dedicação integral ao marido e à casa deles.
Com o tempo, Connie começa a sentir um grande vazio em sua vida, sem perspectiva de felicidade no futuro. Filha de um pai relativamente liberal, Connie iniciou-se no sexo ainda jovem e antes do casamento. Seu marido não fora seu primeiro homem. A possibilidade de que tivesse sido o último a afligia imensamente e era um dos motivos de seu aborrecimento cotidiano, que juntando-se à falta de outras companhias que a estimulassem e à empatia excessiva da sociedade da qual fazia parte pelo dinheiro, deixavam-na à beira da depressão.
Após um breve caso com um amigo de seu marido, que acaba de forma decepcionante para Connie, ela se envolve com Oliver Mellors, o guarda-caça da propriedade que, assim como ela, encontra no sexo uma fonte intensa de alegria e prazer, e um dos aspectos que dá, até mesmo, um sentido à vida.
Connie às vezes me irritava, com seus sentimentos inconstantes, e me lembrava uma perua na TPM. Digo às vezes porque na maior parte eu a compreendi e cheguei a ficar angustiada durante a leitura. Michaelis, o primeiro amante dela, também se mostrava instável em certos momentos, era egocêntrico e tinha isso em comum com Clifford. Este é egoísta, mesquinho e um intelectual esnobe (talvez um pseudo-intelectual?). Mellors, por quem Lady Chatterley se apaixona, despreza estes tipos, é o que melhor a compreende, aceita e até mesmo cuida dela. Ainda assim passa longe da perfeição, sendo sarcástico e por vezes ignorante. Tem verdadeiro amor pela solidão e essa antipatia dele com relação à sociedade como um todo faz com que ele adote posturas consideradas impertinentes e um pouco azucrinantes até.
Quanto à estrutura e escrita, não é preciso dizer, mas fiquei surpresa com o quanto O Amante de Lady Chatterley humilha os new adults na questão de descrição do ato sexual. Claro que parte disso se deve à consciência de que se trata de um livro lançado no começo do século passado, mas ainda assim é capaz de chocar. E esse choque não se deve somente à isso, mas também à forte crítica presente. Durante todo o romance, Lawrence nos atinge com constatações sobre a sociedade da época, sua hipocrisia e seu amor pelo dinheiro acima de tudo.
Fico só imaginando a revolta dos senhores de respeito e as mocinhas virgens enrubescendo à menção de John Thomas.