Aline T.K.M. | @aline_tkm 27/03/2014Amor e solidãoMurakami nos presenteia com sua prosa envolvente em uma história de amor e de solidão, em que pitadas do fantástico dão sabor de mistério ao conjunto.
K., o narrador, é um jovem professor platonicamente apaixonado por Sumire. 22 anos, aspirante a escritora e fã de Kerouac, Sumire – “Violeta” em japonês – usa meias que não combinam e anda sempre despenteada. Conhecerá o significado de estar apaixonada ao conhecer Miu, empresária no ramo de importação de vinhos e dezessete anos mais velha, que a chama para ser sua assistente pessoal e a leva em suas viagens de negócios. Em uma ilha na Grécia, porém, Sumire encontra o inesperado e somente K. poderá salvá-la.
Um triângulo amoroso tão fora do usual quanto incerto é o que o leitor encontra logo de cara em Minha Querida Sputnik. Em paralelo aos efeitos avassaladores da paixão, caminham as inseguranças e a falta de experiência juvenis.
Ainda, algumas questões existenciais acometem os três protagonistas. Eventos inexplicáveis do passado deixam sequelas importantes e uma solidão praticamente invencível domina a vida presente. As existências de K., Sumire e Miu se esbarram e deixam marcas umas nas outras; contudo, não podem evitar o sentimento de se estar só, tal como um satélite que orbita avulso na imensidão do espaço.
Embora uma década separe este romance da aclamada trilogia 1Q84, algumas semelhanças não podem deixar de ser notadas. Música clássica, gatos e família ausente e/ou problemática são características marcantes nas duas obras. Sem esquecer a solidão, o mistério para além do real e as dualidades – quase tudo ganha caráter duplo nas histórias –, que são grandes atrativos dos livros do autor japonês.
K. é quem narra os fatos em primeira pessoa e é muito interessante a maneira como fala com propriedade de Sumire, sua amada. Como se a conhecesse melhor do que ela mesma, ele nos revela cada canto obscuro de Sumire; podemos sentir quase na pele, no entanto, a frustração de K. ao se deparar com territórios até então desconhecidos na vida da garota.
Miu é, talvez, a personagem mais instigante da trama. Misteriosa e cheia de barreiras, a mulher guarda segredos que impõem um desafio à compreensão – até dela mesma.
Poético e introspectivo, Minha Querida Sputnik é como um pedido de socorro, quase uma súplica por respostas. É o grito silencioso de Sumire, K. e Miu que, de tão desesperado, é lançado a esmo como uma garrafa transportando uma mensagem em alto-mar, sem saber a quem se dirigir ou que rumo tomar.
LEIA PORQUE...
Certamente não vai passar batido entre os que curtem personagens complexos – e mergulhos no âmago de cada um deles. Sem falar que o texto envolve e seduz a todo momento.
DA EXPERIÊNCIA...
Mais uma vez, me apaixonei pela narrativa do autor. E fiz as pazes com o sentimento de frustração que tive com o final de 1Q84.
FEZ PENSAR EM...
Gatos, livros e sebos. Não necessariamente nessa ordem.
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