Kennedy 09/01/2012
Romance desprovido de emoção e profundidade
“São Bernardo” faz parte da Segunda Geração do Modernismo brasileiro. Foi escrito pelo alagoano – meu conterrâneo – Graciliano Ramos.
O romance é narrado em primeira pessoa por Paulo Honório, o protagonista. Ele conta um pouco sobre sua juventude e como foi parar na prisão. Depois de passar um tempo considerável encarcerado, Paulo sai da prisão disposto a mudar de vida. Para isso pede dinheiro emprestado a um agiota. A partir daí ele muda completamente. Passa a vender objetos, gado etc. Aos poucos vai se tornando uma pessoa rica, e atinge o ápice quando seu antigo patrão morre, deixando a fazenda que era dele para seu filho, Luís Padilha.
Desde as primeiras páginas percebemos que Paulo Honório é um verdadeiro anti-herói. É o protagonista, mas apronta, apronta, até não querer mais. Tem um caráter completamente duvidoso. No decorrer da estória torna-se aquele típico coronel de interior – que é contra o comunismo e extremamente pão-duro.
Mas antes de tornar-se coronel, Paulo aproxima-se de Luís Padilha, filho de seu ex-patrão e começa a fazer com que o moço contraia dívidas, comprando seus produtos. Objetivo alcançado. Padilha fica atolado em dívidas e acaba vendendo-a a Paulo Honório, que acaba hospedando-o na agora sua casa, por consideração. O nome da fazenda é São Bernardo – nome que dá título à obra.
O tempo passa, e Paulo, montado em dinheiro, vê que precisa de um herdeiro, de uma pessoa que possa continuar a administrar seus negócios quando ele falecesse. Em pouco tempo casa-se com Madalena, uma professora, uma mulher instruída. Em igualmente pouco tempo, eles começam a brigar. Motivo: Madalena preocupa-se com a condição de vida dos funcionários que trabalham na fazenda, onde não têm salário suficiente e não têm nenhuma instrução educacional. Paulo Honório, vendo que sua esposa tem ideias comunistas, começa a se desentender com ela. E as brigas são umas piores do que as outras. Apesar de tudo, os dois acabam tendo um filho.
A estória é interessante, mas nada de original nem impactante. Impactante de forma alguma. Aqui temos um homem pobre que conseguiu ascender socialmente com muito esforço. Esse mesmo homem tornar-se um coronel influente na região de Viçosa/AL, e é aquele típico coronel que quer mandar em tudo e em todos, e é contra o Comunismo. Temos também aquele fiel amigo que sempre acompanha o coronel, o faz-tudo (Casimiro Lopes). Temos a esposa inconformada com a enorme fortuna do marido, enquanto seus empregados ganham pouco dinheiro para se sustentar e não têm nenhuma instrução intelectual (Madalena). Além disso, temos aquela sogra chata (Dona Glória), as brigas de genro e sogra. E mais uma pancada de tipos sociais que vemos em diversos livros, filmes, seriados, e principalmente, em telenovelas.
Os personagens de “São Bernardo”, com exceção, talvez, de Paulo Honório, são tipos sociais, personagens sem nenhuma profundidade psicológica. A relação pai-filho, entre Paulo Honório e seu filho, é completamente esquecida. Em diversos momentos esquecemos que Paulo tem um filho.
Graciliano Ramos, realmente, tem o poder de síntese. Em apenas duas páginas podem acontecer muita coisa. Até aí tudo bem. Mas o que não me agrada é sua narrativa. Ela é seca, sem graça, sem impacto algum. Aí você vem e me diz: mas ele é original, é a forma que ele tem em narrar, muito diferente do que estamos acostumados a ler. Eu respondo: original jamais, “São Bernardo” é a típica obra onde podemos ver a influência que ele recebeu de Machado de Assis, influência essa que às vezes chega a ser quase uma cópia. Há trechos que Graciliano, assim como Machado, conversa com o leitor. Está bem, isso é uma boa influência, mas o fato é que sua narrativa não tem emoção alguma, não tem impacto algum. É um tipo de narrativa que não me agrada.
Não consigo entender como a crítica considera Graciliano Ramos o maior nome da Segunda Geração do Modernismo. Para mim o maior é Jorge Amado, que consegue construir personagens profundos e atuais, tem uma narrativa agradável e consegue gerar impacto e emoção. Mas é o que sempre digo: a crítica ama o vocabulário rico e cheio de neologismos e outras frescuras que estão em Graciliano Ramos, que não consegue gerar impacto nem emoção alguma.
Assim como “Vidas Secas”, “São Bernardo” não passa de um livro bem razoável, ou seja, esquecível.