sallina 10/09/2024
O retrato da aspereza, da vida e da pessoa
Paulo, dono das terras de São Bernardo, narra em primeira pessoa a sua própria história. Como todo relato pessoal, tudo é enviesado, não se sabe onde termina o chão de terra e onde se inicia a brisa da fantasia.
Para alguns uma história de amor (ou da crônica falta dele), para outros uma história sobre o sertão e o sofrimento de seu povo pelos olhos do abusador, mas na verdade torna-se uma história sobre Paulo e o descobrimento de sua própria natureza mutável e intransigente, concomitantemente.
Apesar de uma personalidade dura, comportamentos agressivos autojustificados e uma mente que o guia para a desconfiança, também vemos Paulo em momentos nos quais ele reconhece seus excessos e pena para tentar domá-los. Observa a brutalidade e não a nega, como esperaríamos que fosse. O que acontece é uma gangorra pessoal, ele cria sua própria âncora de certeza de seus atos, mas logo depois questiona as suas próprias certezas, tornando-se ao mesmo tempo seguro e instável em si. A catalisadora de tudo isso é Madalena, mulher letrada que o remexe de dentro pra fora, fazendo-o lidar com opiniões fora de seu eixo e, assim, abrindo a torneira da contradição.
No mais, apesar de um vocabulário denso, com muitas expressões locais, o ritmo eventualmente flui mais naturalmente. É uma obra de leitura rápida, terminei em 2 dias.
Viva graciliano