Rodolfo Vilar 17/04/2022
Você sabia que Jorge Amado havia criado uma peça de Teatro? Pois é, e "O amor do Soldado" é essa peça. Criada em 1944 exclusivamente para a companhia de teatro de Bibi Ferreira, a peça não chegou a ser apresentada em decorrência da dissolução da companhia, sendo publicada em 1947 pela editora de Jorge Amado. No livro mais uma vez o autor traz um dos seus grandes heróis que marcou sua vida, Castro Alves, dessa vez num grande dilema entre escolher o amor ou a liberdade.
.
Usando como pano de fundo a própria história de Castro Alves, Jorge Amado recria o romance que o herói teve com a famosa atriz Eugênia Câmara, mulher que arrebatou o coração do poeta e o dividiu entre escolher a ela ou aos atos de liberdade praticados por Castro. Enquanto o poeta movimenta-se em cena declamando seus famosos poemas e participando dos movimentos abolicionistas da época, Castro Alves também se vê preso a paixão de Eugênia Câmara, que cobra seu amor e pede dedicação total ao romance. Mas como ela pode prender o homem que ama se sabe que ele também ama a liberdade e a prática desta? É entre esse duelo de paixões e revoluções que vemos boa parte da paixão e vida do poeta, um jovem que desde cedo lutou pelos seus ideiais e deu nome a causa, lutar pela liberdade dos outros e pela sua liberdade de expressão.
.
Do ponto de vista estético a peça de teatro é um tanto moderna para a época, já que é construída com várias movimentações de cenários e inclusive com a narração de um narrador onipresente, que intromete-se diversas vezes na cena. Há momentos em que personagens juntam-se a plateia, mesclam-se com o movimento e fazem da peça algo vivo e dinâmico, algo que até então eu não havia lido para uma obra dessa época. É um livro interessante para se conhecer mais sobre uma personalidade, de outro ponto de vista, aumentando ainda mais a curiosidade que Jorge tinha pelo seu poeta favorito. Vale a leitura.