Lista de Livros 23/01/2021
Lista de Livros: Marx: estatuto ontológico e resolução metodológica, de José Chasin
Parte I:
“(...) Essa reflexibilidade fundante do mundo sobre a ideação promove a crítica de natureza ontológica, organiza a subjetividade teórica e assim faculta operar respaldado em critérios objetivos de verdade, uma vez que, sob tal influxo da objetividade, o ser é chamado a parametrar o conhecer, ou, dito a partir do sujeito: sob a consistente modalidade do rigor ontológico, a consciência ativa procura exercer os atos cognitivos na deliberada subsunção, criticamente modulada, aos complexos efetivos, às coisas reais e ideais da mundaneidade. É o trânsito da especulação à reflexão, a transmigração do âmbito rarefeito e adstringente, porque genérico, de uma razão tautológica, pois autossustentada – e nisso se esgota a impostação imperial da mesma, para a potência múltipla de uma racionalidade flexionante, que pulsa e ondula, se expande ou se diferencia no esforço de reproduzir seus alvos, empenho que ao mesmo tempo entifica e reentifica a ela própria, no contato dinâmico com as “coisas” do mundo. Racionalidade, não mais como simples rotação sobre si mesma de uma faculdade abstrata em sua autonomia e rígida em sua conaturalidade absoluta, porém, como produto efetivo da relação, reciprocamente determinante, entre a força abstrativa da consciência e o multiverso sobre o qual incide a atividade, sensível e ideal, dos sujeitos concretos.
Marx ao revisitar a filosofia política hegeliana, sob a pressão da dúvida e a influência das mais recentes conquistas feuerbachianas, percorre exatamente as vias da interrogação recíproca entre teoria e mundo, o que lhe proporcionou identificar a conexão efetiva entre sociabilidade e politicidade, que fez emergir, polemicamente, como o inverso do formato hegeliano, implicando com isso a virtualidade de um novo universo ontológico.”
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Parte II:
“Grife-se em conclusão, para além do enunciado fragmentário da teoria das abstrações na obra marxiana, que seus lineamentos gerais proporcionam – é o que importa, de fato – um quadro de traços marcantes e consistentes, cujo estatuto ontológico se manifesta em todos os módulos nela imbricados. Vale sumariar, para ressalto da unidade, principiando pela referência à determinação da força de abstração como órgão peculiar da individualidade na apropriação ideal dos objetos, passando a seguir pelo caráter ontológico das abstrações razoáveis, ponto de partida do “método científico exato”, cuja delimitação é operada por intensificação de igual natureza, para alcançar a articulação, que ratifica o estatuto ontológico do conjunto pela absorção da lógica das coisas, e concluindo pela menção ao momento preponderante enquanto tônica categorial igualmente ontológica, caráter que também pertence às determinações reflexivas, uma vez que, marxianamente, essas são sempre configurações de pares ou conjuntos reais, interações concretas. De imediato esse contorno presta um grande serviço, esclarecendo de modo definitivo que, na reflexão marxiana, a tomada da realidade concreta como ponto de partida do conhecimento não implica nenhum empirismo, mas “caminhos objetivo-ontológicos” (Lukács), que tornam de maneira translúcida que qualquer roteiro analítico especulativo ou centrilógico é, para ela, totalmente inadmissível, seja pelo seu fundamento, seja porque suas exigências de rigor ultrapassam de longe o que podem oferecer os critérios lógico-formais em sua natureza homogeneizante. Por conseguinte, a teoria das abstrações se mostra como o arcabouço dos procedimentos cognitivos marxianos e, a rigor, está colada à base do que pode ser chamado de seu método científico.”
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Parte III:
“Em síntese, de posse da resolução ontoprática da problemática do conhecimento e da teoria das abstrações, Lukács disporia de meios para sustentar marxianamente a independência do ser em face da consciência, a possibilidade do saber científico e a prioridade do objeto como ponto de partida da ciência, sem lançar mão do débil estratagema do em-si epistêmico; da mesma maneira, teria compreendido o modo pelo qual a cabeça se apropria da realidade por meio do concreto de pensamentos, sem forçar à existência uma herança hegeliana pela reiteração sem brilho da tese do vínculo lógico entre Marx e Hegel, que em outras mãos acaba mesmo por se converter em dependência lógica do primeiro em relação ao segundo, o que é ainda mais despropositado. Tratadas por essas vias extrínsecas à concepção marxiana, as relações entre esses dois grandes autores findam inteira e perversamente obscurecidas, contra as melhores intenções analíticas, inclusive as de seus mais sofisticados praticantes.”
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