Patrick 24/05/2017
O mundo cinzento do homem lasso
''Estamos cansados do homem...''
Agora começo a entender...
Estamos cansados do homem, segundo Nietzsche, desse homem de quase dois mil anos de idade, o homem derivado da rebelião escrava de uma moral ressentida. Cansamos do homem, mas não do homem como homem, como coisa em si, mas como constituição e ideal formado a partir de uma inversão de valores, cansamos desse homem que veio a ser e que o temperamento niilista e pessimista busca aniquilar em si próprio, aniquilando tudo o mais com ele, porque ele entende o homem em termos fixos, entende o homem como verdade eterna e uma verdade que ele não admite como sua, embora acredite nela arraigada em sua constituição, ao passo que o ''livre-pensador'' democrata que, embora sinta da mesma forma, distrai seu cansaço com discursos enquanto tacitamente propaga aquilo que procura repelir e tratar. Nietzsche fala sobre o ressentimento que se enraizou no homem comum, fazendo-o voltar-se para a inteligência, que ele estabeleceu como característica de primeira grandeza em relação à nobreza de espírito inata do homem ''bem-nascido'', e isso me lembra o camundongo de consciência hipertrofiada de Memórias do Subsolo e de J. F. C. Fuller falando sobre o conhecimento, que ao trespassar os domínios dos poucos sábios e alastrar-se em meio aos ignorantes rompeu um equilíbrio fundamental que garantia aos muitos uma confiança nos símbolos e evitava a total entrega e submissão à realidade fria, que veio a torná-los gananciosos, vazios e inconsequentes quanto ao futuro, para ele, caos; um tanto similar a Nietzsche no que tange ao domínio dos muitos, seja como apropriadores dos segredos místicos, seja como criadores de valores, mas diferente dele que vê o perigo não no caos, mas na passividade, na domesticação do homem como empecilho à sua real potência, no cansaço que o prostra e na sua impressão, já de longa data, de que o homem é inerentemente ''mau'', e se não mau, miserável e humilde, e, justamente, por ser ''bom'', presa para os maus; dando ao mundo um panorama melancólico e triste, pelo menos para aqueles que, como Schopenhauer, cientes das dores do mundo, passam a vê-lo de forma cinzenta, um lugar onde somente o sacrífico do homem lhe dá um mínimo de cor.
É uma perspectiva histórica e filosófica que me deixou um tanto mal, na primeira vez em que me deparei com ela, mas antes de aceitá-la ou rejeitá-la por completo, eu preciso primeiro procurar entende-la correta e completamente. Eu havia me equivocado na primeira leitura desse livro (havia pulado o prólogo!), mas ao relê-lo eu o fiz com a ajuda de outro livro; Humano, Demasiado Humano; que junto ao prólogo me ajudou a compreende-lo melhor, sem ainda formar uma opinião pró ou contra.