Resenhas - Incidente Em Antares

eloisagroshevis 19/09/2024

Meu primeiro contato com Veríssimo
Já comecei minha resenha mentindo pq tenho uma clara memória das crônicas do autor e do livro "Comédias para se ler na escola" que eu peguei emprestado na biblioteca pública da minha cidade quando eu estava no ensino fundamental ainda.

Porém, depois disso nunca mais havia lido nada dele.

Se você ler algumas resenhas sobre Incidente em Antares vai ver que há dois grupos distintos de pessoas: as que amaram a primeira parte e os que à consideram um pouco maçante e longa.

Fui do segundo time. Foi legal acompanhar a história da cidade paralelamente à do Brasil mas achei algumas partes chatas. Também não gostei como demorou para introduzir o restante da população, pq ameeei os personagens secundários e queria que eles fossem presentes ao longo da narrativa toda. E não posso dizer que não valeu a pena a primeira parte, pois acho que ela embasa sim todo o resto do livro, mas achei um pouco longa demais.

obs: quando os defuntos saíram de seus caixões e estavam se apresentando eu estava lendo em voz alta com meu pai e rindo muito muito.

Por fim, adorei a história. É meio clichê falar que é uma obra muito atual, mas ela É muito atual. Bizarramente atual. E saber que toda essa discussão escancarada de corrupção, mentiras e política foi lançada em plena ditadura militar é muito impressionante.

Já quero muito ler O tempo e o Vento.

Talita Nascimento 15/09/2024

Povinho da Caveira
Minha primeira experiência com o Érico Veríssimo e devo dizer que tive uma boa primeira impressão!
O livro é muito bem escrito, muito bem desenvolvido e brilhantemente e ironicamente engraçado, pra não dizer cômico!
A história em si é muito boa, foi incrível acompanhar como se deu esse fato desde o início.

A gente passa por um pano de fundo histórico Brasileiro maravilhosamente bem escrito, que não se torna (ao menos pra mim) chato nem monótono de mais como um livro de história acadêmico sabe!?
Muito pelo contrário, é instigante ler, e acompanhar todo o desenrolar pra enfim chegar realmente no ocorrido dos defuntos no coreto de Antares. Fora a crítica social e política na época em que o livro foi escrito (em plena ditadura militar).

Amei de mais esse livro, a experiência com a escrita do autor. Com certeza uma boa porta de entrada. E que certamente me fez querer ler mais obras do autor.

Juh 15/09/2024

É espetacular o que foi feito nesse livro. Eu amei a passagem dos personagens de Antares pela história do Brasil. E todo o desenrolar dos mortos andando pela cidade. É um livro muito divertido apesar de ser um pouco longo. A primeira parte pode não agradar muito aos leitores, mas me deixou muito feliz.

Uma sátira ao Brasil que é viva até hoje.

Davi.Paiva 08/09/2024

A obra máxima de Erico Veríssimo!
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Conheço este livro há muito tempo. Mas só resolvi fazer a leitura do mesmo depois de encontrar um exemplar na Geloteca (geladeira adaptada para doação de livros) da estação de trem do Jardim Romano. E confesso que tinha grandes expectativas, pois é um dos livros preferidos de uma amiga.

Resultado: expectativas atendidas e superadas!

Embora a sinopse da contracapa indique muito do que vai acontecer na obra (a greve, os falecimentos, a impossibilidade do enterro e a ressurreição para a realização do protesto), a estrutura do livro em duas partes, sendo a primeira "Antares" só para apresentar a cidade e como ela chegou até o ponto da parte dois, "O Incidente", já me fez esquecer tudo que ainda estava por vir. E acredito que isso é intencional do autor, pois o enredo muda tanto que se torna imprevisível: apresentação da cidade, rivalidade entre duas famílias, acordo de paz, foco em Tibério Vacariano, a criação de um livro sobre a cidade... tudo isso só na primeira parte! Eu fui atrás de cobre e encontrei ouro!

E sobre a segunda parte, o que posso dizer?

Talvez eu possa resumir em apenas uma palavra: magnífica!

A transição do real para o fantástico se dá de forma totalmente inesperada e em poucas linhas. Basta um ladrão tentar roubar as joias de uma defunta rica na calada da noite... e ele a encontra falando! Pronto! Aqui começa a loucura!

Antares não é uma cidade de boas pessoas. Ninguém é inteiramente bom (terminei o livro suspeitando até de um padre) e alguns conseguem ser tão maus que superam os outros. De qualquer forma, a matriarca que mencionei anteriormente tal qual os outros ressuscitados dão uma boa lição na população local, mesmo que os castigadores também não fossem as melhores pessoas do mundo enquanto vivas, talvez com exceção do personagem João Paz, morto por policiais que investigavam suas relações com comunistas. E aqui cabe um ponto alto: publicar um livro que fala sobre as torturas e assassinatos cometidos na ditadura por agentes da lei e abafados pelo governo fez a minha admiração por Erico Veríssimo disparar.

E o final de toda essa loucura, para mim, não poderia ser melhor. Todo o trabalho que o governo local tem em abafar o incidente e toda a revolta da população são muito coerentes com a realidade em que vivemos.

Ainda pretendo ler outros livros do Erico Veríssimo. Mas até lá, acredito que "Incidente em Antares" é uma obra máxima.

Recomendo!

Carolina 08/09/2024

Esse livro é uma crítica aos "sepulcros caiados" (indivíduos hipócritas cuja moral é puramente verbal) - os quais fazem parte da elite restaquera de Antares, cidade que desde sua origem é dominada pelo coronelismo. Essa burguesia antariana, altamente privilegiada, considera comunista todo sujeito que clama e luta por justiça social.

A erudição do autor me possibilitou aprender palavras novas (dentre elas, alguns regionalismos) e rever outras que não tenho o costume de ler. Dentre as minhas preferidas estão as que pode-se usar para xingar um ministro do Supremo: calhorda - crápula - parlapatão - pastrana - pústula - sátrapa - sacripanta - salafrário - sicário ... (todas adequadas para descrever os próceres de Antares e seus cupinchas).

Quero ler mais Erico Verissimo.

Editado:
Eu excluí a parte da resenha em que comparava a situação descrita no livro com a atualidade - preferi não apontar essa relação porque os ânimos estão acirrados e o entendimento baixo. Atualmente, ao criticarmos um certo tipo de conduta que é automaticamente relacionada a um lado do espectro político, entende-se que estamos, também automaticamente, defendendo o lado oposto. Tudo hoje em dia no campo da política é uma dicotomia e isso me cansa a beleza na hora em que considero a possibilidade de abordar esse assunto. Erico Verissimo traz na sua narrativa apontamentos de extrema relevância à problemas reais (e ainda atuais), bem diferentes dos problemas apontados pela pseudo-esquerda contemporânea. Parece-me que hoje a situação piorou, porque pelo menos antigamente os esquerdistas não eram "woke".

Henrique 08/09/2024

Incidentes à parte
O “Incidente em Antares” foi uma leitura divertida, escrito com maestria e lido com prazer. O estilo narrativo de Érico Veríssimo é econômico, mas não simplista: tudo é na medida exata para passar uma visão clara do ambiente e da trama.
Chama muito a atenção na história uma dicotomia. Dos sete defuntos, apenas os pobres (a puta, o cachaceiro, o agitador) eram realmente amados e sentidos a perda. Os demais eram enganados, dispensáveis ou apenas tolerados.
O livro se encaixa bem nos dias de hoje ao mostrar a truculência, a brutalidade e o anacronismo do coronelismo ditatorial que se agarra ao poder contra os “comunistas”, os “liberais”, negando a ciência e tudo que ameace o status quo. As frases como “Deus, pátria e família” e o enfrentar as adversidades à bala continuam aí, sendo vergonhosamente repetidas pelos mesmíssimos motivos. De fato, o Coronel Tibério (que não era coronel) poderia ter o nome de algum político da atualidade sem nenhum prejuízo.
O livro também, no final das contas, é o retrato de uma sociedade que nunca aprende e que se repete. Tanto que, “incidentes” à parte, o livro permanece tão relevante hoje quanto foi na década de 1970 quando foi publicado.

Djefferson.Silva 06/09/2024

Muito bom!
Incidente em antares não foi uma surpresa pra mim pois eu meio que já sabia do que se tratava devido a sinopses lidas e indicações de book tubers.
Quero ler tudo do Érico Veríssimo pois simplesmente gosto de como ele escreve e o quanto ele é estratégico em seus livros.
Esta obra é completa contendo vários temas envolvidos como: romance, horror e humor de uma forma perfeita, sem pesar a mão.
Confesso que no início, tive um leve pensamento que a leitura se tornaria cansativa devido a parte política contida na primeira parte, mas estava enganado. Érico tem um forma única de nos surpreender, nos fazer gostar e desgostar de um personagem muito rápido e não estragar o final rs.
Queria que o livro tivesse contado mais sobre a vida dos personagens e esse é o único motivo de eu ter tirado meia estrela na avaliação.

Lucas.Silva 03/09/2024

Obra de arte! O ponto alto do livro é a narrativa de Erico, ora se utilizando de uma fina ironia na escrita e fazendo reflexões entre os acontecimentos, ora apresentando outras maneiras de narrar, como partes de jornais, relatos históricos e diários.

A qualidade também está presente na forma como os personagens funcionam na obra. Eles parecem funcionar independentemente da vontade do autor, sendo muito diferentes entre si e com suas próprias dinâmicas. Erico Verissimo sabe articular de forma magistral os diferentes personagens e suas histórias.

É de se elogiar também a forma como o autor articula muito bem a realidade brasileira através de uma cidade ficcional do interior do Rio Grande do Sul. O Coronelismo, conservadorismo, religiosidade apenas aparente, pobreza, apadrinhamento político, anseio e recusa pela modernidade? tudo isso está presente na obra de Erico. O clima de antes da Ditadura Militar é perfeitamente retratado também, marcado pelo forte discurso anticomunista, desprezo pelos pobre e as temáticas sociais.

Livro maravilhoso para se apreciar enquanto tal e também como formas de manipulação da memória empreendida pelas elites econômicas, políticas e intelectuais do país.

rayssagurjao 31/08/2024

Que livro
O livro é muito bom, altamente bem escrito, fala sobre o "Incidente de Antares", ou seja, apresenta a questão de sete mortos que levantam de seus caixões e lutam pelo seu direito de sepultamento. Esse é o realismo fantástico do livro, o qual é uma crítica a política brasileira, principalmente a ditadura e a supressão de liberdades defendidas pela velha guarda e coronéis.
Leitura extraordinária, com personagens em sua maioria detestáveis, apresenta uma realidade até hoje muito presente e as máscaras que são usadas para a apresentação perante a sociedade. Recomendo a leitura, principalmente para quem tem conhecimento de política brasileira.

Grazi 24/08/2024

Eu gostei muito desse livro, o contexto histórico, toda a construção da cidade e do incidente que iria acontecer. Além do bônus de ter personagens muito interessantes e bem explorados e críticas sociais.

André 13/08/2024

Estupendo!
Que obra sensacional! Estava em minha lista a tempos, mas só agora peguei-a para ler. Uma história incrível repleta de personagens complexos, sendo a maioria detestáveis. Dentre os que se salvam, gostei muito, particularmente, do Padre Pedro Paulo, sujeito jovem e de ideias renovadas; Mendes, um homem bom, mas que, devido a infortúnios, atirou-se em um subterfúgio não muito sadio; Meandro Olinda, personagem triste com o qual me identifiquei profundamente, de uma forma até preocupante, preciso voltar para terapia!
O final, ah, o final! Sem entrar em pormenores, afirmo apenas que uma história brasileira não poderia acabar de outra forma! Goste ou desgoste, aquela conclusão é, infelizmente, a essência Tupiniquim.
Enfim, Incidente em Antares foi uma experiência marcante. Dê uma chance, por favor!

Juan238 07/08/2024

Pprt, achei o começo meio chato, tipo, meio didático e pá, deu pra entender o contexto da narrativa, da ênfase que é posta sobre as tradições e afins, mas achei bem longo (provavelmente se eu tivesse uma bagagem melhor ia fazer mais sentido). Mas a história do incidente em sí foi massa, falando os "podre" da comunidade que era tida como "conservadora e tradicional", das metáforas sobre essa podridão moral e literal, e como o as instituições vigentes conseguem contornar esse acontecimento que "não aconteceu" (só segue o baile de máscaras).

rafadaluz 06/08/2024

Quanto mais as coisas mudam, mais elas permanecem as mesmas
Esta é a frase que me acompanhou durante essa leitura. Érico Veríssimo nos leva numa fabulosa viagem no tempo, passando por momentos importantíssimos da história gaúcha e brasileira e que, embora seja um livro de ficção, conta com muitos e muitos elementos do presente.

Vale muito a leitura.

bobsleigh 30/07/2024

Livrão
Só sendo revolucionário ou um cadáver pra dizer tudo o que se pensa, e nesse caso, só morto pra ser livre. Me lembrou bento gonçalves

wolfstarju 30/07/2024

"a liberdade é e sempre será a matéria-prima das artes e do pensamento."

primeiramente, comecei o livro sem expectativa porque não tenho o costume de ler romances brasileiros clássicos (pois sempre acho que vai ser uma leitura arrastada), mas até que esse livro acabou me prendendo. acho que "incidente em antares" é um ótimo livro para quem quer começar a consumir mais literatura brasileira/livros clássicos. não posso negar que, no começo, tive uma leve dificuldade para me adaptar à escrita, pois ela é bem diferente das que costumo ler, mas, conforme fui lendo com paciência, a leitura foi fluindo e gostei bastante.

além disso, o livro traz consigo várias críticas políticas e sociais, como: a hipocrisia política, a desigualdade social, a crítica ao regime militar, a burguesia, o abuso de poder das figuras políticas e burguesas, e como esse abuso de poder afeta nossa sociedade. o mais importante é que critica a sociedade brasileira. erico foi bem preciso ao misturar humor, ironia e senso crítico para abordar esses tópicos. essa mistura fez com que, além de rirmos em certos momentos da obra (pois ela está cheia de muito humor), também tivéssemos um olhar voltado para as críticas à sociedade brasileira na época da ditadura. o incidente, a rivalidade entre as famílias campolargos e vacarianos, a opressão presente na "babilônia" (bairro dos "indigentes" da cidade de antares), a diferença entre a burguesia e a classe operária, a greve dos trabalhadores e a revolta dos defuntos pelos seus direitos tirados são nada mais nada menos do que uma forma que ele encontrou de criticar a sociedade brasileira durante a ditadura militar de forma indireta.

enfim, é um ótimo livro com uma grande crítica por trás. para quem não costuma ler obras desse tipo, confesso que fiquei muito contente por ter lido um livro assim. ele traz consigo uma escrita que, para mim, é um pouquinho complexa, mas basta ler com calma que a leitura flui. também traz uma escrita antiga, com palavras e frases que aparentam ser bem antigas; o livro de fato é antigo. contudo, foi uma leitura fluida, embora em alguns momentos eu tenha sentido um pouco de dificuldade e tenha tido uma experiência arrastada (por isso não dei 5 estrelas), mas, de resto, é uma ótima obra. espero consumir mais obras como esta.