Mayra 31/08/2021
Em meio à fantasia, altas doses de realidade
Poderia dar alguns rumos à essa resenha, que prefiro que seja tomada como uma "percepção crítica", mas decidi por destrinchar uma palavra do título, essa responsável por ligações e afastamentos: o amor.
O amor sempre descortina algo, é sempre novidade. Para a televisão brasileira, é a novela das 7 normalmente responsável pelo amor na sua trama cotidiana marcada pela dificuldade da mocinha em escolher seu marido (destino), uma escolha sempre livre entre o bem e o mal, na qual a ela estão dispostas o melhor das opções (belos contos de fada contemporâneos e nacionais). Talvez, seja esse o fator de afastamento à temática do amor, mas afirmo, Gabo faz lembrar o amor como um desses temas jamais reduzíveis. E nisso, parece sair daí para se prestar na direção do cólera. Uma doença que não deixa de destacar suas marcas latinas. O amor, assim, não se separa das marcas do colonialismo, da guerra, do patriarcado. O amor é expressão real, está encharcada de mundo. Um mundo que não deixa de ter sua paisagem tropical, seus papagaios liberais, suas esperadas mortes, e enfim, suas determinações de vida. Aqui, afirmo muito pessoalmente Fermina Daza como personagem principal, por seu papel de mocinha do romance que precisa fazer uma inevitável escolha sobre todo o seu destino, um destino não solto no mundo, mas composto por todo esse eco, poderia até mesmo falar vagamente em um "som ao redor". O mundo (manipulado pela figura do pai) determinou Fermina Daza, afinal, a escolha contrária não mudaria muito sua condição. A dureza das determinações é justamente sua forma: passar por trás dos olhos (reconhecidas costas). Gabriel Garcia Marques se embebeda de fantasia para nos fornecer uma esplêndida poética do real, eis sua grandeza narrativa, reitero a novidade completa, sua localidade: no doce olhar da dialética do amor.