Thaís Aguiar 22/08/2022
O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA - GABRIEL GARCIA MARQUEZ
Definitivamente, um livro que me enganou quanto ao seu conteúdo. Primeiramente, achei que se tratava de uma história romântica, o que não é verdade. Em segundo lugar, achei que a peste de cólera tivesse grande importância para a trama, o que tampouco acontece. A doença existe e é mencionada várias vezes, mas, basicamente, serve como pano de fundo e apenas contextualiza a época vivida pelos personagens. Mesmo assim, eu diria que este livro trata-se ainda menos sobre o amor.
Talvez essa história, em sua essência, seja sobre a arte de esperar. Mas não estamos falando de qualquer espera. Nosso protagonista, Florentino Ariza, deseja a mesma mulher há mais de meio século. Um amor arrebatador e proibido, que não se concretiza como o esperado. Florentino então, como se não restasse outra coisa a se fazer, espera a vida inteira por Fermina Daza, enquanto assiste a própria vida e a do resto do mundo transcorrer sem qualquer cautela diante de seus olhos.
O leitor não deve esperar uma história bonita, com cenas apaixonadas entre personagens que se querem mais que tudo, pois Gabriel Garcia Marquez é implacável com seu realismo literário. Estamos lendo sobre seres humanos, afinal, com inúmeras falhas, expectativas frustradas e perversões, muitas vezes disfarçadas por caprichos e delicadezas, contadas da maneira mais usual possível, de modo que o leitor mais desatento nem perceberá o absurdo que acaba de se passar naquelas linhas.
Livro incrível, com uma caracterização tão bem feita dos personagens, que ao terminarmos a leitura, ficamos com aquela sensação nostálgica de que não se trata apenas de nomes fictícios. A escrita do autor faz jus à sua fama, pois mesmo se tratando de uma história com quase nenhum otimismo, temos passagens muito bem humoradas, onde é impossível segurar o sorriso.
"Pois tinham vivido juntos o suficiente para perceber que o amor era o amor em qualquer tempo e em qualquer parte, mas tanto mais denso ficava quanto mais perto da morte." Pág.428.
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