spoiler visualizarCardoso 04/11/2020
and within a minute there had come to me out of my very pity the appalling alarm of his being perhaps innocent. It was for the instant confounding and bottomless, for if he were innocent, what then on earth was I?
É curioso que, até hoje, The turn of the screw seja lido literalmente como uma história de fantasmas. Na sua forma, o é, evidente; mas o mínimo conhecimento em psicologia, pedagogia ou mesmo do comportamento cotidiano de crianças e doentes mentais dispersaria a forma, tão bem utilizada, em detrimento do conteúdo, tão bem guardado: duas crianças, necessitadas urgentemente de amparo, nas mãos duma preceptora em estado alucinatório grave.
Prova disso é quando a narradora "analisa" e "compreende" o que as crianças estão dizendo: mesmo sob sua pena, claramente tendenciosa, que com o passar dos anos entendia "com mais clareza" o que havia ocorrido, é possível ver que, pensando nos pequenos como manipuladores e cínicos, eles, simples crianças, estabelecem uma diálogo, um pedido de socorro, unilateral com a babá; com frequência, quando ela põe o que pensa na mesa, estabelecendo o desentendimento, fica patente o desamparo das crianças (e não o "encurralamento", a "descoberta"). Prováveis vítimas de assédio (não se sabe se eles viram demais ou foram alvos, propriamente, de abuso sexual), principalmente Miles aspira por uma escuta, por um ponto de retorno depois de suas andanças em busca de sua pobre "liberdade".
As aparições, na verdade, são mais reais que os irmãos, meros artífices do desejo da autora: crianças, aos seus olhos, "perfeitas" (ou seja, sem personalidade alguma) interceptoras de seus fantasmas. Ms. Grose, desamparada, simplória e supersticiosa, se vê refém das certezas irrefutáveis da colega de trabalho; logo entregando-se à novata, acaba por permitir o desenvolvimento do quadro sintomático delirante.
Quint, de início, não lembra ninguém para a preceptora, mas é referenciado em relação ao patrão — é fácil supor que, na escritura de suas memórias, tenha se invertido a conversa com Grose, tendo a própria identificado o fantasma como o falecido empregado; o fato dela saber que vê Jessel sem nenhuma descrição prévia é significativo. Quint é a representação depravada do patrão na medida em que Jessel é a dela — ela até escreve para o amante! As crianças conectam os fantasmas mas só fazem afastar os vivos.
Por trás disso tudo, a moral vitoriana é alvo de uma virulenta, ainda que discreta, crítica: os silêncios, os modos, as hierarquias, os receios! É claro que acreditar em fantasmas é mais fácil do que uma doce e virgem senhorita perguntar a um garoto, seu patrão, se ele foi estuprado.