Kamilla 02/06/2022Tem um pouco de distopia nessa utopiaFinalmente li o livro que deu origem a ideia de uma sociedade perfeita vivendo sobre a terra. Pela descrição das normas e dos valores da ilha consegui ver que Thomas More era um homem com uma missão. O livro é um ataque aos privilégios e ao ócio da nobreza da época, a corrupção do clero e a toda a burocracia que era praticada na corte real.
O autor então combate esses males da sua época idealizando uma sociedade igualitária, não contaminada por ideias de nobreza, realeza, acumulo de capital e classes sociais.
Mas o que eu pude enxergar é uma sociedade extremamente engessada, com pouco espaço para o desenvolvimento da individualidade e das diferenças, que são a característica mais prevalente da raça humana. Mesmo em uma comunidade fechada, que compartilhe os mesmos hábitos e costumes, pessoas ainda terão ideias e projetos diferentes, vão querer se dedicar a coisas diferentes e vão alcançar resultados diferentes.
A ilha não precisaria ter uma população extremamente pacífica, e sim uma população extremamente obediente. A sociedade idealizada por More não abre muito espaço para mobilidade e independência, e segue regras de hierarquia rígidas e pouco práticas. A interferência do estado utópico na fida familiar chega a ser bizarra e o nível de doutrinação na formação do cidadão utópico é sufocante.
Sem contar que a ilha também estabelece comportamentos problemáticos, como loby político, colonialismo, guerras e escravidão. Sem contar o machismo - mas eu já esperava isso pela época em que o livro foi escrito.
Foi bom me familiarizar com um clássico tão famoso, mas a ilha de Utopia definitivamente não é o lugar onde eu gostaria de morar.