Val Alves 25/02/2021
Ah, esses modernistas...
O que falar desse livro? Não irei me apegar ao enredo pois, além de ele já estar largamente disponível, acredito que ele seja o menos relevante perante todas as facetas apresentadas nessa obra.
Não espere um texto comum e ordenado. Muitas coisas estão aí no texto pra te confundir, pra causar uma desordem sensorial. Por vezes a prosa ganha ares de poesia. Há algo além das palavras e você precisará de uma certa engenhosidade para não se perder entre uma frase e outra.
Por vezes você vai se sentir como se estivesse dentro sa cabeça do personagem, e isso de forma confusa e fragmentada. As cenas parecem estar sendo narradas de um filme, com cortes abruptos, omissão de algumas descrições e mudanças de "planos" devidamente calculadas pra interromper seu raciocínio e os diálogos parecem, muitas vezes, sem nexo. Inúmeras digressões me deixaram em dúvida se era pra encontrar a metáfora por trás das descrições do autor-narrador ou se eram apenas um tipo de pausa no meio da estória.
Mário certamente era um apreciador da psicanálise freudiana e recheia o texto de referências sabiamente aplicadas.
"O subconsciente, que prestidigitador! Tira da carne as coisas mais inesperadas! A gente não pensa - Jornais do Rio! Correio da Manhã, País, Gazeta!.. - não quer, bruscamente espirra uma palavra sem razão."
Essa resenha poderia ter dezenas de páginas se resolvesse comentar todas as características observadas nesse texto incrível.
Na ânsia de experimentar algo além dos moldes europeus já consolidados, Mário observa o caráter despretensioso dessa obra:
"Meu destino é lembrar que existem mais coisas que as vistas e ouvidas por todos. Se conseguir que se escreva brasileiro sem por isso ser caipira mas, sistematizando erros diários de conversação, idiotismos brasileiros e sobretudo psicologia brasileira, já cumpri meu destino. Que importa ser louvado em 1985? O que eu quero é viver a minha vida e ser louvado por mim nas noites antes de dormir. Daí: Fräulein. Confesso- te que sou feliz."
Como boa mineira vou categorizar assim: bom demais da conta!