Fernanda631 10/10/2022
Otelo
Shakespeare é genial com seus personagens marcantes. Esse livro é uma das alegorias mais interessantes sobre a inveja, um dos mais graves pecados.
Um coração preenchido pela inveja pode fazer loucuras e enlouquecer a mente de outros em conjunto. E Shakespeare, como sempre, um gênio na construção dos diálogos interessantes e dos bons alívios cômicos. Esse livro é capaz de ensinar o quanto alguém pode te manipular e praticamente acabar com a sua vida inteira. O autor cria um cenário que consegue abranger a maldade humana, a traição, a falsa amizade, a insegurança e a decadência de um homem em um espaço de tempo relativamente curto.
A história gira em torno de quatro personagens: Otelo (um general mouro que serve o reino de Veneza), sua bela esposa Desdêmona, seu tenente e grande amigo Cássio, e seu sub-oficial Iago. Iago não aceita que Otelo nomeou Cássio como tenente e tenta, de todas as formas possíveis, destruir a vida de todos, plantando a “sementinha do ciúme” na mente do general para que ele desconfie de uma relação amorosa entre Desdêmona e Cássio.
A tragédia de Shakespeare trata de temas variados que são discutidos até hoje, como racismo, amor, ciúme, traição e até xenofobia. Quando você começa a ler esse tipo de clássico, é inevitável enxergar as referências em boa parte das séries e filmes atuais. Iago é aquele vilão persuasivo e inteligente que engana a todos ao se passar por um homem íntegro, obediente e conselheiro. Desdêmona é a esposa fiel, casta e passiva que “abandona” seu pai Brabâncio para casar com Otelo, o mouro de Veneza. Ela precisa lidar com ofensas e críticas de todos os lados por ter se casado com um estrangeiro, que ainda por cima é negro e com “traços animalescos”.
Otelo é venerado como general, mas ainda sofre com o julgamento que recebe de todos ao seu redor. Cássio é um escudeiro fiel, porém de cabeça fraca: trata Desdêmona com educação e cavalheirismo, mas quando se trata de outras mulheres, é grosseiro e rude, como quase todos os homens da época. Ele cai direitinho nas mentiras de Iago.
É interessante o modo como Shakespeare aborda o ciúme. Quem é ciumento e possessivo geralmente acredita em qualquer mentira bem elaborada, tanto que Iago nem precisa de grande esforço para ludibriar o general. Com suas falas venenosas, aos poucos, Iago finge que “sabe de algo, mas não pode contar” e deixa a entender (após muita insistência de Otelo) que Desdêmona e Cássio estão saindo às escondidas.
O vilão utiliza as fraquezas de Otelo (como sua baixa autoestima) e cria cenas visuais na cabeça do mouro. Otelo não suporta imaginar sua esposa se relacionando com Cássio, ferindo seu orgulho masculino. Nada é pior para os homens de cargo alto no exército que serem traídos. E é justamente essa a arma de Iago.
Otelo é aquela obra que você precisa ler com calma, mas que vai abrir portas para a compreensão de arquétipos. É importante fazer uma análise aprofundada das personagens e relacioná-las com o contexto histórico da época.
Gostei do enredo e do final dramático. Shakespeare nunca erra nos final com mortes e bastante ação.
Recomendo muito essa leitura.