Diego Rodrigues 16/04/2021
"Aqui não há tempo nem vida" - Um romance sobre o tempo e a morte
Em 1912, Katia Mann, esposa do renomado escritor alemão Thomas Mann, foi internada em um sanatório de Davos, na Suíça, para tratar de um caso de tuberculose. Naquele mesmo ano, inspirado em uma visita que fez ao local, Thomas Mann começou a escrever a obra que viria a se tornar uma das mais influentes da literatura mundial. Doze anos e uma guerra depois, "A Montanha Mágica" foi finalizada e, finalmente, publicada. E cinco anos mais tarde, em 1929, Thomas Mann venceu o Prêmio Nobel de Literatura e entrou de vez para o hall dos maiores romancistas da história. "A Montanha Mágica" é um romance de formação que vai nos contar a história de Hans Castorp, um jovem órfão que está prestes a iniciar sua vida adulta e que decide, por recomendação médica, tirar um pequeno período sabático nos Alpes suíços, mais precisamente no Sanatório Internacional Berghof, local onde seu primo, Joachim, está internado para tratar de uma doença pulmonar. Mas, ao chegar no sanatório, Hans descobre que ali "não há tempo nem vida" e as três semanas que ele pretendia passar nas montanhas logo começam a se alongar.
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Os dias vão passando e Hans vai se aclimatando, ou melhor, se habituando ao fato de não se habituar ali em cima. No Berghof tudo é diferente, o tempo, o clima, a vida, nada é como na "planície", e Hans vai, aos poucos, se desintoxicando (ou seria se intoxicando?). Os muitos personagens, pacientes e funcionários do sanatório, encarnam os medos, as aflições, os conflitos e os pensamentos que assolavam a Europa no início do século XX, durante o período pré-guerra. O doutor Behrens e seu assistente Krokowski, o humanista Settembrini e seu rival jesuíta Naphta, a madame Chauchat, o hedonista Mynheer e até o próprio primo Joachim, cada um deles é um enigma a ser decifrado, tanto por Hans quanto por nós, leitores. A narrativa é extremamente existencial, repleta de simbologia e sujeita a longas digressões. Temas como a arte, a filosofia, a política, a religião e o amor são profundamente investigados, mas o maior destaque fica por conta do tempo e da morte, temas centrais da obra.
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Difícil dizer o que "A Montanha Mágica" significou pra mim. Enquanto permanece no Berghof, é como se Hans houvesse se desprendido do tempo e a narrativa é construída de tal forma que o mesmo se dá com o leitor. É um livro que entorpece e causa uma sensação de fuga e de total isolamento do mundo ao redor. Ao final da leitura, é como se nós também tivéssemos ficado internados ali no sanatório, junto de Hans Castorp. Nos apegamos aos pacientes e funcionários do Berghof e nos habituamos ao clima da montanha. E claro, ficamos órfãos quando a história chega ao seu fim. Ao mesmo tempo, parece que nada e tudo aconteceu ali em cima. O tempo realmente esteve suspenso ou era apenas sentido de alguma outra forma? Seria tudo uma analogia ao estado de espírito e psicológico do jovem Hans Castorp?
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A que conclusão cheguei sobre essa história? A resposta é: nenhuma. "A Montanha Mágica" é um livro que não nos leva a uma conclusão clara, não nos dá respostas e sim perguntas. Faz a gente olhar para a nossa vida de certa distância, ou melhor, de certa "altura", e nos possibilita ter uma perspectiva diferente sobre nós mesmos. Reflete muito a bagagem de vida do leitor, talvez por isso tenhamos tantas interpretações diferentes. Thomas Mann dizia que para que a obra fosse minimamente compreendida deveria ser lida duas vezes. Eu iria além e diria que essa é uma obra que deve ser revisitada em diferentes fases da nossa vida. Não por ser um livro difícil, não é, mas por ser extremamente existencial, o que faz com que cada leitura seja única e traga diferentes sensações. Com certeza voltarei a visitar o Berghof algum dia e sei que estarei diante de um novo livro.
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