Victor Albertini 06/03/2023
Sem nome ou sobrenome, sem sentir o que não sente
SOBRE:
Em ?Todos os Nomes? Saramago brinda seus leitores com a história do melancólico Sr. José, auxiliar de escrita da Conservatória Geral do Registo Civil de um lugar fictício (tão típico dos livros do autor). Dono de uma vida monótona, resignado por natureza, o único hobby do Sr. José é colecionar recortes com informações sobre pessoas famosas, até que um dia tem a súbita ideia de complementar sua coleção com dados oficiais da Conservatória a respeito dessas pessoas. É nessa tentativa de buscar informações que o Sr. José se depara, por engano, com o verbete de uma mulher desconhecida, a quem, inexplicavelmente, sente a necessidade de encontrar, como se tivesse finalmente achado o objetivo de sua vida, e graças a quem o Sr. José nunca mais será o mesmo.
IMPRESSÕES:
Impossível ler este livro e não se lembrar de ?O Homem Duplicado?, lançado após cinco anos (para quem o leu antes, obviamente) da mesma forma que quem ler ?O Homem Duplicado? depois, dirá que é impossível não lembrar de ?Todos os Nomes?, por inúmeras razões. Ambos os livros têm como protagonista um homem solitário em uma busca obsessiva por alguém, em ambas as histórias reina uma atmosfera de mistério, com momentos de tensão, ambas possuem uma escola como um dos principais cenários, além da figura fundamental do Professor (ou Professora). Além disso, as duas narrativas contam com um cômico ?personagem? secundário, intrometido nos pensamentos do personagem principal, que são o Senso Comum, no caso de ?O Homem Duplicado? e (coisas de Saramago) o teto do quarto, em ?Todos os Nomes?. Até mesmo a sistemática repetição do nome do protagonista Tertuliano Máximo Afonso espelha-se na quantidade de vezes em que somos lembrados que o Sr. José é funcionário da Conservatória Geral do Registo Civil.
Apesar dos pontos em comum entre as duas obras, cada uma delas é única e toca o leitor de maneiras diferentes, afinal, a capacidade de reflexão de José Saramago era inesgotável. Este foi um livro que me proporcionou diversos momentos de emoção, compaixão e identificação, mas um momento que merece ser pontuado, sem dúvida, é quando o Sr. José é forçado a refletir acerca do real motivo de sua busca pela mulher desconhecida. Enfim, este não é um dos livros mais aclamados do autor, porém já é um dos meus preferidos da vida.
CITAÇÕES:
?De fato, não há nada que mais canse uma pessoa que ter de lutar, não com seu próprio espírito, mas com uma abstração.?
?Em rigor, não tomamos decisões, são as decisões que nos tomam a nós.?
?O espírito humano, porém, quantas vezes será preciso dizê-lo, é o lugar predilecto das contradições.?
?As aparências enganam muito, por isso lhes chamamos aparências.?