Lucas.Silva 27/10/2021
Perturbadoramente real
Nesse livro, Dostoiévski apresenta um personagem sem nome, que é o homem do subsolo (ele pode ser eu, você... todos nós). Este homem escreve as suas notas (memórias) do subsolo, sem saber ao menos por que o faz. Na primeira parte da obra, é tratado do subsolo, um ?lugar? no qual o personagem está, em que ele se distancia de tudo e todos, enquanto rumina sobre a sua desgraçada existência. É uma pessoa contraditória, que a todo tempo se desmente, ora se sente inferior, ora superior, diz enxergar tudo de forma clara, enquanto a maioria, segundo ele, não o faz. Propõe reflexões sobre a liberdade e sobre a possibilidade de os seres humanos viverem em harmonia sem todos terem decidido isso. Toda essa primeira parte se apresenta de forma bem confusa, como a própria mente do personagem, mas nos dá pistas da mente dele.
A segunda parte trata-se de um dos momentos da infeliz vida do homem do subsolo. Diferentemente da primeira, essa é linear e apresenta na prática como se dá o pensamento do homem. Ele se vê com muita estima, acreditando que as pessoas o desprezam antes mesmo de conhecer, e que é uma honra aos outros terem algum contato com ele. Na prática, o personagem se acovarda em praticamente todas as situações, havendo contradições fortes entre o que deseja fazer e o que efetivamente faz. Enfim, é uma pessoa tão real que a leitura chega a ser incômoda, afinal qualquer um se identifica em algum aspecto do homem do subsolo, e chegamos a nos sentir mal com isso. No entanto, acredito que esse mal estar é necessário, é preciso reconhecer a nossa sombra.