Bárbara X. P. 10/07/2015
Harper Lee e seu livro amigo
Há livros que tocam bem no fundo do coração; há livros cinco estrelas, mas com orgulho, as maiores estrelas e mais luminosas; há livros que se tornam amigos, e quando se vão, lágrimas afloram; há livros que por si só são suficientes, não precisam de mais nada.
Quando eu ouvia falar ou via a capa de 'O Sol é Para Todos', não sei porque raios pensava que era uma narrativa pesada, com os preconceitos nus e crus nas páginas. Lógico que eu iria querer ler, um clássico, aprenderia mais, porque as apostilas de História da escola nunca bastam. Mas me surpreendi; não é um livro pesado, e nele eu aprendi mais do que simplesmente a História crua.
Scout, uma doce menininha, nos narra aqueles anos em que passou por mudanças e viu muito a sua volta mudar: seu irmão, Jem, ficando mais velho; Dill, seu amigo, tendo mais e mais ideias mirabolantes; seu pai, Atticus, trabalhando em um novo caso e, mesmo assim, não deixando seus filhos abandonados, e várias outras coisas. Mas, apesar disso, algo permanecia: o amor.
Em meio as traquinagens de Scout, Jem e Dill, eles vão desvendando mais e mais sobre seus vizinhos e o lugar onde vivem, a cidadezinha Maycomb. E seu pai envolve-se no caso que acaba se tornando pessoal, o do negro Tom Robinson acusado de estupro por dois brancos, uma moça e seu pai.
Já pensou em uma criança falando sobre estupro? Eu ficava me perguntando como é que ia ser. E me surpreendi.
E é assim, com as brincadeiras, um caso complicado, os parentes (que ninguém pode escolher), vizinhos e amigos que lições valiozas são aprendidas.
Quem não quereria ter um pai como Atticus? Eu, pelo menos, gostaria, então teria três pais: Deus, o meu próprio, e Atticus. Ele é admirável, conseguindo ensinar suas crianças muitas coisas; e, o que é muito importante, ele era um bom exemplo. Mostrava aos seus filhos que o que os falava, fazia, e o que não ensinava falando, mostrava na prática. Não é preciso enfrentar leões literais para ser corajoso; não é preciso ser ofensivo ou surrador para ser firme e diciplinar.
Eu também gostaria de ter um irmão como Jem e um amigo como Dill.
E Scout é uma graça. Ela sabia aproveitar a infância e aprender com os adultos e com o que via. A única vez em que julguei que ela tinha feito uma bobagem mesmo, tive que calar a boca.
Todos eles dariam ótimos amigos, até Calpurnia, a figura que era cozinheira e educadora também das crianças Finch.
Podemos aprender de todas as pessoas, até mesmo as que parecem ser más (e podem realmente ser).
Já estava acostumada em ler o livro. Nem me incomodava que, se eu respirasse um tanto profundamente, sentiria aquele cheiro de livro velho (sabe, a biblioteca é cheia desses, e muitas vezes são os melhores). Ai, ai, eu entrava na história. Uma viagem perfeita, divertida, risonha. Não teria importância se os dias ali eram amarelados pelos tempo, não. E agora que acabou, estou com saudade. Li a última frase e pensei: "Já?"
Mas não foi um "já?" porque o livro é incompleto, é um já porque o livro é completo e amigo. É um dos meus favoritos e amigos, e eu tenho vontade de chorar porque ele me cativou. Com certeza eu o relerei, e relerei novamente.
Li que parece que será lançado o 2, agora o manuscrito foi encontrado, e não recusarei sua leitura. Mas, para mim, 'O Sol é Para Todos' é, como sempre foi, suficiente por si só.
Escrevi essa resenha (não revelei muito, não se preocupe) porque gostaria que todos os leitores e os que se tornarão leitores um dia, passem pela experiência que esse clássico proporciona. Afinal, ele não é ótimo por acaso. ;)