Alessandro460 20/05/2023
O primeiro romance de Hemingway, mas não é o melhor
"O sol também se levanta" foi o romance que fez a fama de Ernest Hemingway como grande escritor. Esse livro revela seu estilo incomum de escrita, no qual destaca-se a profusão de diálogos. Além disso, o autor também chama atenção por suas descrições "vívidas" e "realistas" que destacam-se por sua riqueza de detalhes.
Também nesse romance, Hemingway começa a exercitar a chamada "técnica do iceberg" que consiste em revelar menos e insinuar mais, de modo que o leitor consiga entender algumas situações por meio das entrelinhas, do que é sugerido.
Todos esses elementos recorrentes em outras obras do autor, estão presentes também em "O sol se levanta". No entanto, apesar de ter feito muito sucesso à época de seu lançamento, o livro não é um dos melhores do autor.
É interessante notar logo no seu início, alguns pontos de aproximação com "O Grande Gatsby" outro romance anterior que parece ter se tornado uma espécie de referência para os autores norte-americanos do século XX, principalmente Hemingway.
Em ambas as obras, não há uma trama linear, mas a narração de eventos nos quais transitam um grupo de pessoas um tanto excêntricas, despatriadas por vontade própria que representam a chamada "geração perdida" pós Primeira Guerra Mundial. Dessa forma, esse grupo de amigos boêmios passam quase o tempo vagando de um lugar para outro e quase todo tempo bebendo, que para alguns, parece sua única forma de diversão.
Entre eles, destaca-se, protagonista, o jornalista Jake - uma espécie de alter-ego de Herminway, que tem a companhia constante de uma mulher também um tanto excêntrica: Lady Asheley, ou, Brett, como é mais conhecida. Ela é do tipo independente, em alguns aspectos libertária, "moderna" para sua época, que vive movida somente por próprias paixões.
Sendo assim, "O sol também se levanta" vai acompanhar de perto este inusitado casal que tem um relacionamento que assemelha-se a uma "amizade colorida". Comparados a eles, outros personagens são desinteressantes e fúteis, com exceção de Robert Cohn, cuja descrição física, hábitos, predileção por alcool, e talento literário, ironicamente, faz lembrar Scott Fritzgerald, o autor de "O Grande Gatsby".
Dessa forma, "O sol também se levanta" consiste nas andanças de Jake e seus amigos excêntricos pela Europa, principalmente pela Espanha durante o período da "Fiesta", o que vem ser a parte mais interessante do livro. Neste trecho, pode-se ver a voz do próprio Hemingway nos trechos em que descreve de maneira apaixonada todos os estágios envolvendo o ritual das touradas, visto por "ele" (narrador) com uma mistura de dor e prazer que beira o sexual.
No entanto, apesar da escrita de Hemingway ser cativante, principalmente quando concentra-se nos eventos da "Fiesta", senti falta de um maior aprofundamento psicológico nos personagens. Jake parece se manter incólume mesmo enfrentando um sofrimento humilhante e terrível que o impede de ter uma vida plena. Ao final do livro, dá a impressão que nada se conclui, o que vemos é somente um vislumbre de pessoas que vagam de bar em bar sem um propósito definido,- seria a necessidade de ficar bêbado constantemente, uma fuga da realidade? talvez, nisso também haja um traço de originalidade e "realismo" na maneira do autor de contas suas histórias.
De qualquer forma, "O sol também se levanta" merece ser lido, pelo estilo de escrita incomum de Hemingway, mas para mim em termos de narrativa é bem inferior a "Por quem os sinos dobram" - seu melhor romance- e "Paris é uma festa".