spoiler visualizarSamuludry 30/01/2023
Amor, solidão e morte
Dostoievski é um autor católico ortodoxo e é muito legal ver como ele trata de tudo isso no livro. O livro decorre por uma longa (e às vezes até cansativa) história sobre temas como o isolamento, transtornos mentais e o niilismo. Sobre o último, Dostoievski parece construir muito bem a reflexão que ele quer fazer sobre isso. Pelo menos o que eu entendi sobre o livro foi que ele basicamente afirma dois pontos:
O isolamento social pode ser perigoso. É indubitável que Raskolnikov tenha adquirido boa parte de seus problemas por meio dele. E tanta solidão, somado a coisas que o próprio livro explica, como a morbidez do quarto e etc., fazem com que ele chegue a desenvolver um pensamento frio: nenhum ser humano é tão importante afinal. E algumas reflexões realistas: até que ponto um crime pode ser considerado "necessário"? Se Napoleão matou tantos e é considerado herói, por que se eu matasse um ser humano que só causa sofrimento aos outros seria considerado um vilão?
Isso leva ele a cometer um crime. Mas faz com que piore a sua situação de morbidez e ansiedade, que também piora a vida de todos ao seu redor. No final, o livro parece te mostrar a conclusão do autor: o amor (que Raskolnikov encontra em um ser humano, mas que ele, como um católico, com certeza concordaria que todos podemos encontrar em Deus) faz com que ele enxergue que a vida não é tão pobre, feia e fria quanto parece.
No mais, ficamos sem respostas aparentes para o segundo ponto, mas o leitor pode concluir, talvez, que não cabe a nós fazer justiça, pois não temos plena posse da forma como as coisas funcionam.
Enfim, a interpretação é bem profunda. O livro é meio melancólico e pode chegar a ser pesado e até gatilhante para algumas pessoas, mas é interessante por tantas reflexões que ele pode fazer. Raskolnikov é um personagem muito profundo e muito bem desenvolvido. Assima de tudo, humano.