Quincas Borba 12/07/2023
Romanesco, pero no mucho
Iaiá Garcia, considerado o último romance da "fase romântica" de Machado de Assis (desconfie dessa taxação de romantismo!), foi lançado em 1878.
A história fala dos amores de Jorge, um típico burguês carioca, e Estela, empregada/criada em sua casa. A mãe deste, D. Valéria, visando acabar com os amores do filho, o envia para o fronte da Guerra do Paraguai. Voltando de lá, com a mãe morta e sem esquecer os amores, descobre que Estela se casa com um viúvo, Luís Garcia, que tem uma filha, a personagem homônima Iaiá. A trama se desenrola com a introdução de Iaiá no convívio que Jorge tem com a família.
Voltando ao que falei no começo: sempre desconfie dessa "fase romântica" de Machado, pois de romântica, além de alguns aspectos, tem só a estética.
Iaiá Garcia consegue pegar o que faziam os primeiros romances bons e combinar com o qie faltava neles. Ressurreição e A Mão e a Luva tem análises psicológicas incríveis dos personagens; Helena falta nesse quesito, mas em compensação tem uma história que, ainda romanesca, consegue ser competente.
Iaiá Garcia pega as relações psicológicas dos personagens e junta a uma história que, honestamente, me fez chorar.
Sobre os personagens: o Jorge é muito bom, é interessante ver como ele vai se desenvolvendo e lidando com uma nova vida e novos amores;
Estela não teve um foco tão grande quanto eu queria, mas ela ainda assim foi agradável, e foi triste a ver se debatendo com o passado em face de sua nova posição e vida (e também, no final, ela fala sobre como ela e Jorge nunca poderiam ficar por causa de sua posição social baixa, o que é algo que eu não esperaria ser criticado num romance do Machado dessa época);
Iaiá e uma adolescente que explode de sentimentos romantistas, sendo bem inteligente e manipuladora, e ainda assim divertida;
O preto Raimundo foi um personagem o qual me afeçooei muito. A história dele com Luís Garcia é bem tocante, e o ver num estado tão triste no final apertou no coração. E ele tem um papel importante na história, algo que eu não esperava!
Ademais, além das digressões psicológicas presentes, existem outras características do Machado de sua fase realista que podem ser observadas, como a figura do agregado no sr. Antunes e a crítica social (na forma do "não podíamos ficar juntos por causa do meu status social"); mas, mesmo sem essas características, ainda é uma história agradável e divertida.
Recomendo!