theguutti 02/06/2024
O quadrinho é impecável em todos seus critérios: qualidade de ilustração, traço da arte, formato a se contar e escrever a narrativa, linguagem seguida e a tradução, até detalhes como o pai pronunciar as palavras e o modo de falar influente. O tema tratado, Holocausto, é absurdamente sensível e histórico, a HQ tem um foco no lado nazista sobre a Segunda Guerra, mas mesmo assim não deixa de apresentar outras áreas, tem um maneira mais cartunesca que atrai públicos mais jovens e passa por toda a linha do evento histórico ( que se inicia em boatos e segue até os campos de concentração ), e admite antropomorfismo caracterizando cada animal como uma identidade, sendo ratos como judeus, gatos como alemães, porcos como poloneses não-judeus, sapos como franceses ? ao invés de coelhos, porque Art acredita que coelhos seriam animais muito inocentes para caracterizar os franceses ? o que é bem interessante e inovador na área, cria um simbolismo forte e ao passar do livro vemos algumas brincadeiras com essas identidades, que também são muito bem planejadas, como o fato de judeus serem ratos uma vez que nazistas comparavam judeus a ratos, usavam isso em suas propagandas e eles seram gatos por caçarem judeus. A narrativa é rica em detalhes, porém parece um pouco ampla em conteúdo bruto, entretanto ainda assim é magnífica. Toda a relação entre Art e o pai dele fica bem mais compreensível ao saber do passado do pai, suas vivências, experiências e relatos explicam boa parte ? se não toda ? de sua postura, atitudes, visões e personalidade, o que cria essa tentativa de empatia pelo pai vindo do Art que agora saberia tudo o que o pai passou, e consegue-se observar a relação complicada entre eles. A HQ é pesada, a forma que os judeus vão sendo desumanizados ao longo do tempo dentro desse ideal genocida de dizimar os judeus, que seriam vistos como uma massa disforme, é pesada, o Holocausto, o nazimo, a Segunda Guerra foram pesados. Por fim, o livro é muito bom, trata o assunto principal muito bem e de forma atípica, mostrando assim que quadrinhos são capazes de contar histórias de qualquer tipo com excelência, poucos livros do mesmo assunto são relatos pessoais de vítimas e trazer isso de uma forma tão inovadora é, novamente, impecável. Eterniza-se o horror passado por aqueles que vestiam sapatos nos pés judeus, que pisariam em terras nazistas. Eu poderia falar muito mais sobre o livro, incomparável e deslumbrante, com prêmios muito bem merecidos.