Clara T 06/04/2024Juventude Marcada pela DoençaDepois de toda a pandemia que passamos, considerando o que foi a peste negra, a gripe espanhola, foram tantas as crises por conta de epidemias que deveríamos estar acostumados.
Neste livro temos a narrativa do ponto de vista de Elza, que foi levada pela mãe para ficar em uma pensão em Campos do Jordão para tentar se recuperar de tuberculose. A doença era pouco conhecida em termos de tratamento, mas atingia uma parcela significativa da população. E em toda região serrana no Brasil foram surgindo os sanatórios para tratamentos da doença. Em sua maioria os doentes eram levados para estes locais e só saíam recuperados ou mortos. Era tão grande a procura que foram surgindo pensões que recebiam doentes e acompanhamento de médicos, mas quase todo morador acabava aceitando hóspedes em tratamento já que mesmo os sanatórios ficavam lotados.
Na rotina dos personagens havia muito repouso, as visitas diárias do médico, as caminhadas na redondeza. Apesar de evitar falar sobre os tratamentos, a maioria dos pacientes conviviam apenas com outros pacientes.
A distância da família e a sensação de estar vivendo uma outra vida permanecem nestas personagens. Por serem muito jovens, Belinha a mais nova está prestes a completar 15 anos, apesar da boa condição que as permite ficarem hospedadas na pensão e receber o tratamento "em casa" elas vivem uma vida bem simples e com algumas privações. A saúde é realmente um fator debilitante. Percebemos isso diante da expectativa da festa de Belinha que termina de forma trágica. As cartas são a forma utilizada para se manter de volta em seu mundo. Para Letícia, parece não fazer sentido voltar à vida que tinha antes. Para Lucília, não há motivos para estar em outro lugar. Mas as meninas reagem de forma diferente. Letícia é obediente e se esforça para cumprir o tratamento por conta dos elogios que venha a receber do médico. Já Lucília prefere viver a vida como se não estivesse doente já que não tem a expectativa de ficar boa.
Elza é o meio termo. Tenta não se distanciar do seu objetivo de voltar para casa e para o noivo, mas ao mesmo tempo aceita os galanteios de Flávio, um artista que vive em tratamento.
As meninas acabam por conhecer outros pacientes, uns que se recuperam e voltam para casa, e outros que são obrigadas a se despedirem no cemitério.
É curiosa a forma como a autora tenta representar o processo de amadurecimento das personagens diante do ambiente desconhecido. Situações corriqueiras não deixam de estar presentes.
A linha que tece a história é o sentimento de amizade.