Helder 14/03/2012Extremamente triste & Incrivelmente belo.Que bom que li este livro! Minhas botas pesaram demais, mas o livro é cem dólares!
Pensei que depois de Kevin, nenhum outro livro me faria sofrer, mas me enganei. Senti todas as dores do Oskar, da Vó e do Velho que não fala. E quanta dor pode existir! E como um autor pode ser tão talentoso a ponto de te fazer sentir toda esta dor na sua pele.
Nunca vou esquecer o dia em que estava numa praça de alimentação de shopping devorando este livro na hora do almoço. Não podia esperar chegar o fim do dia para continuar em casa. Tinha acabado de ler o relato sobre Dresden, e cheguei ao capítulo em que descreve o 11 de setembro. A Avó encontra Oskar embaixo da cama:
“ Corpos caindo.
Aviões batendo em prédios
Prédios caindo...
...Quarenta anos de amor por alguém se transformam em grampos e fitas...
...Queria ficar deitada nos meus próprios dejetos, era o que eu merecia. Queria ser uma porca em minha própria imundície.”
Isso é dor. Comecei a chorar no meio da praça. E fiquei engasgado o dia inteiro. Que vontade de abraçar a Vó. Que vontade de ajudar Oskar. Que vontade de ver as mãos tatuadas do velho.
Mas a estória é muito bonita. Jonathan Safran Foer escreve poesia em prosa. Li o livro com um lápis para marcar passagens bonitas, como quando o pai lhe conta que ninguém é insignificante, pois qualquer um que mude um grão de areia no Saara, terá mudado o mundo. Ou quando Oskar pede um beijo para Abby Black:
“O ser humano é o único animal que enrubesce, ri, tem religião, declara guerra e beija com os lábios. Por isso, de certo modo, quanto mais usar os lábios para beijar, mais humano você é.”
Ou ainda a estória da mulher que mora no alto do Empire States, ou ainda...
São dois livros em um. Mas os dois se entrelaçam de uma maneira fenomenal, onde o autor nos mostra a dor trazida pela guerra, seja no passado em Dresden, ou no presente, no ato terrorista do 11 de setembro. Também dá uma cutucada nos americanos, que se sentem os “sofredores” devido ao atentado, mas se esquecem que já houve muito mais sofrimento na história. Impossível não comparar as perdas de Dresden com as perdas de Nova York.
E as conseqüências de tudo isso.
Num dos “livros” temos a estória de Oskar, um menino meio nerd e completamente louco pelo pai. Um ano após o falecimento de seu pai no “Pior dos Dias”, ele arruma coragem de entrar no quarto e no closet de seu pai, que foi mantido intocado pela mãe. Lá ele encontra uma chave com um nome: Black. Seria mais um dos desafios de seu pai? Ele prefere acreditar que sim, e se incumbe da hercúlea tarefa de encontrar o Black dono da fechadura para aquela chave. O único problema é que existem 472 Blacks em Nova York, e Oskar vai visitá-los, porém a pé, pois ele tem medo de ponte e de transportes públicos, prováveis alvos terroristas. É o retrato da neurose americana pós 11 de setembro.
No “outro livro” temos a estória do homem que não consegue mais falar. Ele escreve o que quer dizer em cadernos, que vão sendo guardados. Às vezes, só volta a página e mostra um texto antigo que pode casar com a situação. Às vezes usa as mãos, tatuadas com Sim e Não para economizar papel. Às vezes escreve na pele. Mas em nenhum dos casos a comunicação flui como deveria ser.
E acho que posso dizer ainda que existe um terceiro livro, que é a estória da avó. Do amor por alguém que só lhe via como a lembrança de uma outra pessoa. O amor por um filho e por um neto, que lhe traziam um chão. Que criança não queria ter uma Vó disponível 24 hs no prédio da frente via walk talk?
Este também não é livro para resenha, mas sim para um fórum.
E para completar fui ver o filme e recomendo, pois também é uma pérola. Foram feitas mudanças mas que deixaram a estória ainda mais bonita. No filme, tem muito pouco da avó e nada de seu caso de amor, mas o final com a explicação da mãe (Melhor papel de Sandra Bullock), a carta final aos Blacks e o resultado da expedição no Central Park são lindos demais. Filme cem dólares também!