Maiara.Alves 26/11/2021Uma leitura dolorosa"Cisnes Selvagens" é, acima de tudo, uma narrativa fascinante e um modelo de pesquisa histórica.
A autora, Jung Chang, chegou a pertencer à "Guarda Vermelha" enquanto seu pai, dirigente comunista, era levado à loucura pela Revolução Cultural. Com uma bolsa de estudos na Inglaterra, Jung Chang decidiu passar suas ideias a limpo, pesquisando a história de sua família como parte da história da própria China.
O "Grande Salto Para Frente" marcou o início da derrocada da família de Chang. Mao ordenou que todos começassem a produzir aço para acelerar o crescimento do país. No entanto, estava esquecendo que havia milhões de pessoas a serem alimentadas e que sem os campos a economia do país não andaria. O resultado foi uma fome generalizada, o que enfraqueceu o poder de Mao. A "Revolução Cultural" mergulharia a China em um caos que durou até, praticamente, a saída de Chang do país, em meados dos anos 60.
A Revolução Cultural foi uma tentativa de Mao de recuperar o poder que ele acreditava estar perdendo, já que não era ele quem de fato governava a China. Começou primeiro condenando intelectuais, pintores e escritores. Esta "Revolução" deu munição para que pessoas fossem denunciadas e condenadas com base em inimizades. Ressentimentos antigos fizeram com que autoridades do Partido fossem denunciadas, pois havia uma inveja muito grande de quem havia ascendido ali dentro. Mais do que isso, a brutalidade sem precedentes marcou esse evento. Chang conta que seus colegas prenderam professores suspeitos nas salas de aula, além de agredi-los. Todo mundo, de repente, era inimigo.
Muito mais do que nos revelar um lado desconhecido da China, a escrita de Jung Chang tem a função de curar o trauma e restaurar a memória.
Cisnes Selvagens é um livro que eu facilmente recomendaria a qualquer pessoa que deseja ter uma experiência visceral sobre memória e história. Você vai sair transformado dessa leitura, não só porque se deparará com uma China um pouco desconhecida, mas porque ela nos coloca frente a frente com a nossa própria existência.