spoiler visualizarMatheus.Correa 11/04/2024
O Cântico para Leibowitz, um ode a estupidez humana
O Autor sabia o que queria dizer e qual ferida gostaria de cauterizar, é relativamente triste saber de sua atualidade, mesmo tendo mais de 30 anos de existência e contemplar que a estupidez humana é cíclica, assim como o autor diz, sem impor com a voz off, mas demonstrou ao longo de uma jornada de muito erro e culpa.
O mundo tinha seus traumas e estava óbvia a sua evidente fraqueza, "Eles não pensam nesses assuntos em termos do que poderia ser verdade. Eles inventam essas questões com base no poderia ser sensacional se apenas tivesse acontecido de ser verdade. É ridículo! Posso lhe dizer que o Reverendo Padre Abade ordenou que o noviciado inteiro pare de falar no assunto.? Depois de alguns instantes, infelizmente ele acrescentara: ?Realmente não havia nada no velho que sugerisse algo sobrenatural, havia??, e demonstrara um muito tênue vestígio de esperança deslumbrada em sua voz. - Há esperança naquilo que se crê, evidentemente os olhos estão passando pelo que se vê, mas a nítida confiança em retratar algo como santo é a necessidade humano em beatificar alguns humanos. Vide a estrutura histórica católica como um exemplo, e suas canonizações.
"Disseram que foi Deus, a fim de testar a humanidade que tinha se tornado cheia de orgulho na época de Noé, quem ordenou aos sábios daqueles tempos, entre os quais o Abençoado Leibowitz, que inventassem grandes máquinas de guerra como nunca teriam sido vistas antes, armas de tal potência que continham os fogos do Inferno, e que Deus tinha inspirado esses reis magos a colocar as armas nas mãos de príncipes(...) Mas os príncipes, desprezando totalmente as palavras dos sábios, pensaram cada um com os próprios botões" - e eles pensaram tanto em sua fugaz forma de abater o outro que: Essa foi a insanidade dos príncipes, e então se seguiu o Dilúvio de Chamas.
Igual eu disse e reafirmo, o livro não é sobre olhar para o futuro, mas é observar que ao lado já um inimigo temeravel, o desconhecido. Na época havia uma Guerra Fria, que tensionava os escritores, engenheiros, cientistas e todo e qualquer humano que sabia sobre o poder da cisão de um átomo e os ademais, mesmo desconhecendo, tinham pavor ao desconhecido.
O termo "Dilúvio de Chamas" não é o único que bebe das fontes bíblicas, mas lembre, estamos falando de um abade, de religião e a referência é precisa ao ponto que traz daquilo que podemos tocar para o campo da hipótese, e vendo a geopolítica, essa distopia me parece tão real.
"Da confusão de línguas, da mescla e do entrelaçamento dos remanescentes de muitas nações, do medo ? de tudo isso brotou o ódio(...) Foi assim que, após o Dilúvio, a Precipitação Radiativa, as pragas, a loucura, a confusão de línguas, a ira, começou a carnificina da Simplificação, quando os remanescentes da humanidade esquartejaram outros remanescentes, membro a membro, matando governantes, cientistas, líderes, técnicos, professores e todas e quaisquer pessoas que os líderes das turbas ensandecidas dissessem que mereciam morrer por terem ajudado a tornar a Terra aquilo que ela havia se tornado. Nada tinha sido mais odioso aos integrantes das turbas do que os homens instruídos." - A Alusão a ética dentro das pautas científicas também é caracterizada aqui, discussão em vigor e como título de debate acadêmico, até onde, o homem poderia ir pelo progresso científico e o quão detestável poderia ser a figura do cientista. A potência da comparação com a realidade beira a discussões como "o homem que sente deus" situação ainda mais explanada em questões como "quem deve viver".
A segunda parte é a minha favorita, os diálogos e a forma como contemplamos esse humano ao longo dos séculos, traz a sensação iminente do paradoxo do progresso, a razão que é vinculada a sabedoria e a forma correta de existência, entrando em um embate ético, sobre o que é necessário e o que é de fato mais importante.
O velho judeu, que também é nos apresentado na primeira parte (Faça o homem) vem, já com séculos de existência (Agora em Faça se luz) procurando por um novo salvador, sendo espelho da geração que precisa de alguém para remissão de seus pecados.
"? É o fragmento de uma peça de teatro, ou diálogo, ao que parece. Já vi isso antes. É algo sobre algumas pessoas que criaram algumas pessoas artificiais para serem suas escravas. E os escravos se revoltam contra seus criadores. Se Thon Taddeo tivesse lido De Inanibus, do Venerável Boedullus, teria descoberto esse fragmento classificado como ?provável fábula ou alegoria?. Mas talvez o thon não dê muita importância às avaliações do Venerável Boedullus, quando ele pode contar com as suas próprias. ? Mas que espécie de... ? Lege! Gault se afastou um pouco, com as anotações em mãos. Paulo se virou para o acadêmico novamente e falou em tom educado e informativo, enfatizando cada palavra: ? ?À imagem de Deus Ele os criou, homem e mulher Ele os criou?. ? Minhas observações foram apenas conjecturas ? disse Thon Taddeo. ? A liberdade para especular é necessária..." - o diálogo de dois homens olhando para textos bíblicos, os vendo apenas como mais um, uma peça de teatro ruim e refletindo as construções de narrativa e a realidade que os atinge:
? ?Deus ordenou ao homem, dizendo: De toda árvore do paraíso tu poderás comer. Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, tu...? ? ... deixar o mundo na mesma condição de negra ignorância e superstição que o senhor diz que sua Ordem tem lutado... ? ?... não comerás. Pois no dia em que dela comeres, certamente morrerás.? ? ... para neutralizar. Tampouco poderíamos vencer as epidemias de fome, as doenças ou os abortos, nem tornar o mundo um pouco melhor do que vem sendo... ? ?E a serpente disse à mulher: Deus sabe que no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal.? ? ... nos últimos doze séculos, se toda linha de especulação fosse interrompida e todo novo pensamento denunciado... ? O mundo nunca foi melhor, nunca será melhor. Será somente mais rico ou mais pobre, mais triste, mas não mais sábio, até o último dos dias.
A terceira parte é a "Faça a Tua Vontade". A que eu menos amei, pela forma como as coisas foram construídas e o cansaço de uma narrativa densa. O autor tem as qualidades em expressar sua crítica cirúrgica, sendo pontual e atemporal, mas na terceira parte as coisas ganham uma dimensão a mais e vemos que realmente a tragédia humana e pura e simplesmente a sua existência, e dentro desse negativismo, com traços tão reais, vemos mais uma vez, o ser humano sendo o seu grande predador.
Livro que recomendo fortemente. Um livro necessário.